“Centenário da chegada do comboio a Chaves 28/08/1921 - 28/08/2021 (100 dias - 100 imagens)”. Fotos: Coleção Particular HF. (foto 77).
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
No Evangelho da Infância de Tomé, Jesus amaldiçoa as pessoas que lhe causam problemas. Muitos deles foram utilizados na Igreja inicial. Tomé disse que Jesus disse: “Tornai-vos estrangeiros.” E: “As raposas têm as suas tocas e as aves têm os seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde pousar a cabeça.” O Evangelho de Judas sugere que foi ideia de Jesus que Judas o traísse, pois é apenas aparentemente humano, um espírito vestido por um corpo humano. Mas a verdade pode ser servida em Mateus 6,16: “Quando jejuares não sejas como os hipócritas.” E a verdade continua com Marcião quando diz que o Antigo Testamento é desadequado para ser escritura cristã. Em Pastor diz-se que depois do sagrado chamamento, se um homem ceder à tentação do diabo e pecar, tem possibilidade de um arrependimento, mas se pecar e se andar a arrepender-se muitas vezes, de pouco lhe valerá, pois escassamente viverá. Os que agem malevolamente serão castigados a dobrar e morrerão para sempre. O bom tem de se abster do adultério e da fornicação, da embriaguez, da vida luxuosa, da gula, do orgulho, da mentira, da hipocrisia e da infâmia. Os verdadeiros servos de Deus apenas possuem um arrependimento. O Novo Testamento que se atribui a Paulo, Lucas ou João apenas existe através de variantes de um original que ninguém ainda conseguiu encontrar. O Codex Sinaiticus, um dos grandes códices unciais, descoberto no Sinai no século XIX, que omite a história da mulher adúltera, encontrada na maioria das Bíblias modernas, foi enviado para Sampetersburgo por empréstimo e depois foi vendido ao Museu Britânico, por Estaline. As pessoas, em geral, apreciam os amuletos, que são pequenas passagens da Bíblia concebidas para serem usadas como encantamentos contra o mal, e também cópias dos Evangelhos concebidas para a adivinhação, através de uma seleção de versículos apropriados. Uma coisa sabemos, estes textos preservam leituras genuinamente antigas. Mas, valha-nos Deus, não podemos desculpar-nos afirmando simplicidade onde existe apenas confusão. Todas as Bíblias derivam de um único manuscrito, o Códex de Sampetersburgo (Leninegrado ou L), todo escrito no século XI que preserva a leitura da família Ben Asher, que trabalhou em Tiberíade, junto ao mar da Galileia e que dedicou a sua vida à cópia precisa e à correção dos manuscritos bíblicos. Foram esses os verdadeiros massoretas. Existem mais de seis mil manuscritos da Idade Média que seguem esse mesmo texto. Quase todos os livros do Mar Morto (250 a. C e 115 d. C.), os “proto massoréticos”, são extraordinariamente próximos de L no texto básico. Uma das diferenças entre os textos do Mar Morto e L é que os primeiros não indicam vogais, são puramente consonânticos. Apesar das variações entre os diversos manuscritos, continuamos a conseguir identificar certas características de Marcos, cujas descrições são curtas e sucintas, e as de Lucas, que são longas e circunstanciais. Na sua essência, a Bíblia conta uma história de desobediência e redenção, de pecado e salvação, de paraíso perdido e paraíso recuperado, respeitando todas as raças humanas. As principais personagens são Adão e Jesus Cristo. O primeiro foi o que pecou no Jardim do Éden e o segundo (nas palavras de São Paulo, o “último Adão”), o que obedeceu a Deus até ao ponto da morte, para conferir a salvação a toda a humanidade. Ao desastre seguiu-se uma missão de salvamento. O cristianismo é uma religião salvífica.
Vivemos o tempo onde as figuras que fazem a mediocridade são as que levam vantagem. E elas rompem por todos os lados. Propagam-se como baratas. O espaço público é hoje uma harmoniosa cacofonia. Um território de gargalhadas estridentes, de gritos agudos, de gestos dramáticos, de piadas repetitivas, de opiniões categóricas infetadas de Pachecos Pereiras, Lobos Xavieres, Claras Ferreiras Alves, Ricardos Araújos Pereiras, Paulos Portas, Louçãs, Marques Mendes, Josés Gomes Ferreiras, Miguéis Sousas Tavares, etc. Vivemos entre a vulgaridade e o mais puro narcisismo. Hoje mostra-se tudo o que antigamente se escondia. Ou se tinha em bom recato: o sono, as refeições, os namoros, os animais, a família, as casas. No mundo de hoje tudo se compra ou falsifica: a imagem, a carreira, a moral, o êxito, a felicidade e até a fé. Ninguém sabe bem como chegaram ao topo da pirâmide. E ainda menos se percebe que os mais altos dignatários do Estado andem a correr atrás deles e sejam até seus cúmplices. Alguns até lhes prestam vassalagem. Mandam mais os bobos que o próprio rei. O desejo de receber popularidade de quem é popular é quase um espetáculo obsceno. A popularidade sem sabedoria e prestígio é ridícula. Esta cultura de massas nivelou a sociedade tão por baixo que acabou com a separação entre alta cultura e baixa cultura. Dizem que esse é o novo conceito democrático e igualitário. O novo paradigma. Provavelmente sim, é. Já não há elites. Apenas existe o povo. Trocamos a superioridade pela inferioridade, a grandeza pela pequenez, e a glória pela vulgaridade. Antigamente a celebridade visava sobretudo a grandeza, a de agora contenta-se com a fama. Não vá o sapateiro além da chinela. O verdadeiro herói de agora é o homem ordinário. A celebridade baseia-se na aparência, em ser-se uma criatura vazia e sem consistência. Apenas brilha nos ecrãs, iluminada pelo que a consome. O conteúdo deixou de ter importância. A quase totalidade das celebridades não sabe por que razão ascendeu a esse estatuto. É célebre porque sim. Os grandes homens que outrora admirávamos eram aqueles que contribuíam para preencher a nossa angústia existencial, os que incarnavam os grandes ideais políticos, estéticos, científicos, literários ou musicais. Ou seja, aqueles que davam algum sentido à vida. Os de agora são como balões de hélio que, de tanto subirem no ar, desaparecem lá nas alturas sem deixarem rasto ou saudades. E nenhum exemplo. São a fascinação pelo nada. H. M. Enzensberger, no seu livro “Mediocridade e Loucura”, falou na morte da literatura e, honra lhe seja feita, nomeou os seus assassinos. E, por incrível que pareça, não são os denominados “analfabetos primários”, os quais até lhe merecem um elogio, pois, apesar de não saberem ler nem escrever, possuem uma sabedoria ancestral. Neles, com a transmissão oral que asseguram, está a origem da literatura. Os assassinos são os “analfabetos secundários” que, apesar de saberem ler e escrever (embora com erros), estão reduzidos à imitação da linguagem dos meios de comunicação de massas. Apesar de se desconhecerem como tal, constituem uma espécie de plebe audiovisual. Os seus herdeiros são o que atualmente podemos denominar como plebe audiovisual-digital, ou “analfabetos terciários”, pois, apesar de serem tecnologicamente aptos e velozes, infoincluídos e conetados, informados e poliglotas, conhecedores de todas as novidades, gadgets, ferramentas e atualidades tecnológicas, fazem de todo esse conhecimento uma incultura e as suas atitudes pertencem ao mundo onde “tudo se passa e tudo passa”, nada dele ficando, onde tudo se possui, nada se tem e ninguém é. Apesar de terem imensas qualidades, são pessoas sem qualidade. Esse conhecimento não lhes deu sabedoria. Essa nova plebe audiovisual digital é o proletariado que serve a fama e os famosos. Vendem-lhes a força do seu trabalho de veneração e os famosos ficam com a mais-valia. O nosso tempo é composto por fragmentos e um nexo contínuo de descontinuidades. Criou-se um novo síndrome: o do horror ao anonimato. Neste nosso tempo já não existe tempo para a metafísica, para a estética e, sobretudo, para a ética.
34 seguidores
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.