558 - Pérolas e Diamantes: Dicotomias e outras derivações
Muitos dos políticos que conheci, ou com quem me dei, pareciam ser duas pessoas diferentes num só corpo, pois possuíam dois tipos de comportamento completamente diferentes. Por vezes eram confiantes e argutos, embuçados por uma voz afirmativa; outras vezes, revelavam-se muito enigmáticos, falando com uma voz monótona, grossa, alta, quase aguda.
A verdade é que a grande maioria, depois de sair da ribalta, viu os seus sonhos dourados pelo poder esfumarem-se.
Agora lá estão nos seus gabinetes caseiros, administrando as suas contas bancárias, ou admirando algumas obras de artistas plásticos que lhes foram oferecidas no momento da despedida.
Que eu saiba, ainda nenhum escreveu as memórias por falta de enredo digno desse esforço.
Ninguém consegue enganar, sem primeiro lisonjear. É dessa forma que encontram o método para convencerem as pessoas de que o que cada um quer é o que ele quer.
A verdade é que a ambição dos homens é muita e o que há para distribuir é pouco. Mas esse pouco tem de chegar para quem arrisca e se sacrifica pelo bem comum.
Dizem que o homem sábio não tem ambições e por isso não tem fracassos.
Os chineses dizem que têm a certeza de que deve existir uma maneira certa de governar. Mas o inquestionável é que todos estamos bem familiarizados com todas as maneiras erradas.
Mas apenas devemos observar o que é nosso dever observar. Não é por desaprovar o caos que devemos apoiar a ordem a qualquer preço.
Como diziam os velhos sábios: para que o Estado floresça a bondade deve ter a sua origem no próprio governante, não pode advir dos outros. Apenas os homens vaidosos e tolos é que não pensam noutra coisa que não seja ter um cargo notório. Desejam distinções públicas e poder.
Nós passamos a vida a admirar as pessoas por aquilo que não fazem. E depois chamamos-lhes estadistas.
Na vida em sociedade há aqueles que não mentem... muito. Existem também os que mentem com imaginação. Os que mentem por conveniência. E os que mentem por prazer. E ainda há aqueles que misturam a verdade com a fantasia, nunca sabendo, nem eles nem nós, qual é uma e qual é a outra. Vivem numa espécie de ângulo agudo, que pensam ser reto.
A verdade é que estou ainda para descobrir um mentiroso que não seja polidamente lírico sobre a virtude de se dizer a verdade.
Dizem que os homens habilidosos não podem ocupar cargos importantes por causa disso mesmo. Mas também afirmam que, na sua maioria, os sábios se parecem com os mestres do lugar comum que são sempre citados até à náusea pelos estúpidos.
No nosso país, os ricos fingem de pobres e os pobres dão-se ares de ricos. Por isso é que os cofres do Estado estão sempre vazios.
Os impostos excessivos reduzem a capacidade de criação de riqueza. Os sábios antigos diziam que até os bandidos das florestas nunca levavam mais do que dois terços da caravana de um mercador, pois é do interesse do ladrão que o mercador prospere para que haja sempre alguma coisa para roubar.
Há pessoas que preferem o poder à virtude. São a maioria. Gostam de pensar que se pode ser, ao mesmo tempo, bom e poderoso. Mas isso é raro.
Depois de comprarmos castanhas assadas, ao tirar-lhes as cascas queimamos os dedos e ao comê-las queimamos a boca.
Confúcio aconselhava os barões chineses do seu tempo a promover aqueles servidores do Estado que eram dignos e a educar os que eram incompetentes. E, depois de banalidades tão maravilhosas, advertia que o contrário nunca devia ser praticado. Ou seja, que não se deve tentar educar os que já são dignos e, muito menos, promover os incompetentes.
Mas poucos governantes conseguem reconhecer o que é bom e virtuoso quando o veem.
Os mais diligentes preocupam-se, sobretudo, em transformar os que se autointitulam de incómodos em adornos do regime.
Volto a Confúcio: “Aprender e não refletir sobre o que se aprendeu é perfeitamente inútil. Pensar sem primeiro aprender é perigoso.”
Mas a verdade é que nem ele, nem eu, um seu leitor diligente, temos muita paciência para os manipuladores de argumentos.
Uma coisa aprendi com o tempo: os sacerdotes profissionais detestam que lhes falem de uma religião, ou de um sistema de pensamento, rival.
Só consegue prever o futuro quem compreende perfeitamente o presente.