232 - Pérolas e diamantes: o suave odor da pestilência
Virgílio, porque era um homem previdente e sábio, escreveu que, mesmo que não a avistemos, “está sempre uma cobra escondida na relva”.
Aos incautos, manobradores e restante pessoal distraído é bom lembrar as palavras de John Selden: “Pega numa erva e atira-a ao ar, saberás de que lado sopra o vento.”
A verdade é sempre, mas sempre, uma coisa simples.
Há quem fale da minha obstinação e da minha teimosia como se elas fizessem parte de algo de indeterminável, ou, talvez, de uma maneira de ser polémica e demasiado frontal. Pois ser frontal e polémico na nossa terra é a modos como um pecado. Eu diria, se me conheço bem, que o meu grande defeito, ou pecado, se preferirem, é possuir caráter. Tão simples quanto isso.
Identifico-me plenamente com o que escreveu o advogado e conferencista norte-americano, Michael Josephson: “As pessoas de caráter fazem o que acham certo não porque isso vá mudar o Mundo mas porque se recusam a ser mudadas pelo Mundo.”
Para os que se fazem de cegos, surdos ou mudos, lembro as palavras de Winston Churchill: “Há pessoas que mudam de ideias para não mudarem de partido e existem outras que mudam de partido para não mudarem de ideais.” Convém lembrar, aos mais distraídos, que o falecido estadista inglês mudou várias vezes de partido, mas, como a História prova, não mudou de ideias.
Resumindo, à boa maneira de Oscar Wilde: “O único pecado que existe é a estupidez”.
- K. Chesterton disse que existem duas maneiras de chegar a casa; uma delas é não chegar a sair. Mas eu sou dos que arrisco ir. A minha avó ensinou-me a ousar.
O mesmo filósofo britânico, que também foi escritor, poeta, narrador, ensaísta, jornalista, historiador, biógrafo, teólogo, desenhista, conferencista e brilhou igualmente no campo da economia, demonstrou que o homem não é um ídolo, mas é quase sempre um idólatra.
Convém lembrar aos idólatras que o culto dos demónios foi sempre posterior ao culto das divindades, ou mesmo ao culto de uma única divindade.
Eu não pertenço ao grupo das pessoas que se agarram à ideia bizarra de que aquilo que é sórdido tem sempre de vencer o que é magnânimo.
Os políticos, os respetivos aparelhos partidários, e as oligarquias comerciais que nos governam dão a impressão de serem múmias de olhar fixo, envolvidas em tecidos discursivos e em palavras ocas, que ninguém consegue perceber se são velhas ou novas.
Tornaram-se antinaturais pelo facto de prestarem culto ao dinheiro em vez de defenderem a humanidade.
Existe muita gente por aí que leva tempo a perceber a piada que contam, sendo eles os autores da própria piada.
Há homens que na sua génese conspirativa, transformam a fé numa religião das coisas pequenas.
Chesterton escreveu que “a moralidade da maioria dos moralistas, antigos ou modernos, tem sido sempre uma catarata, sólida e bem polida, de banalidades em fluxo interminável”.
Se repararem bem, de uma maneira geral, os elogios ao esforço e outras milhares de trivialidades ditas pelos nossos políticos, ou enunciadas em conversas conspirativas, pelos militantes e simpatizantes dos partidos, são sempre expressas por aqueles que não fazem esforço nenhum em enunciá-las.
O problema é que combater a floresta de intriga e má-língua que campeia por aí em núcleos conspirativos, bem circunscritos e perfeitamente identificáveis e identificados, é como tentar limpar uma mata com uma navalha.
Muito se diz e nada se traz à luz do dia. A coragem é uma palavra vã. Aos homens da política sobra-lhes em intriga o que lhes falta em caráter.
Assim é impossível trazer para a política os melhores. Por isso é que nela triunfam os conspiradores, os medíocres, os aparelhistas, os tartufos, os pavões, os secretários para todo o serviço, os disformes, os conformes e os tachistas. Enfim, os homens sem escrúpulos.
Cristo, estimados leitores, segundo os evangelhos, no seu aspeto humano, deu-se sempre melhor com os romanos do que com os judeus, que eram o seu próprio povo.
É verdade, e eu sei do que falo, os adversários estão sempre nos outros partidos, mas os inimigos encontram-se sempre dentro do mesmo partido.
Daí a necessidade de uma lufada de ar fresco no nosso ambiente político e partidário.
Os partidos tradicionais exalam um cheiro próximo do dos esgotos a céu aberto em Vale de salgueiro – Outeiro Seco.
PS – Tchékhov dizia que “a arrogância é uma qualidade que fica bem aos perus”. Por isso, mais uma vez solicitamos ao senhor presidente da CMC e aos seus distintos vereadores, que aprovem uma auditoria independente às contas da nossa autarquia. Quem não deve não teme.
PS 2 – Também em nome da transparência, já agora senhor presidente, talvez fosse boa ideia aprovar conjuntamente uma auditoria externa às contas da JF de Santa Maria Maior.
PS 3 – Era um ato de coragem redentora, o senhor presidente deixar-se de desculpas de mau pagador e por fim ao deplorável espetáculo dos esgotos a céu aberto em Vale de Salgueiro – Outeiro Seco.