237 - Pérolas e diamantes: o contrário do contrário
Confesso que sinto prazer em folhear a revista do Expresso, agora em tamanho grandioso, com letra grande, fotos enormes e temas muito bem escolhidos. E o prazer é redobrado porque já me vai faltando a vista e sobretudo a paciência para o jornalismo de trazer por casa que inunda os jornais portugueses.
Mas foi no Jornal de Negócios que li algo que me intrigou profundamente, pois não consegui descortinar o protótipo do destinatário, ou destinatários, da respetiva mensagem. Ou, talvez, da figura, ou figuras, inspiradora de tão nefasto retrato.
O constitucionalista Jorge Miranda, homem desde sempre ligado ao PPD (atual PSD, quem diria), denunciou o facto de que “o sistema do poder local tem funcionado pior, tem sido um centro de grande clientelismo, da corrupçãozinha, de alguns tiranetezinhos.”
Em quem estaria a pensar o professor de Direito que acaba de editar o livro Da Revolução à Constituição? Qual terá sido o figurino, ou figurinos, inspirador de tão grave acusação? O que saberá o senhor e nós desconhecemos? Será mesmo verdade que o poder local é um centro difusor de clientelismo, corrupção e tiranetes? Eu, cá por mim, não acredito. Pelos exemplos que conheço, posso afirmar que o poder local é exatamente o contrário… do contrário.
Pela leitura do Expresso fiquei a saber que a venda da TAP vai render ao Estado português cerca de 1,2 mil milhões de euros, que é o montante da dívida da empresa. O negócio promete. Este Governo sabe muito bem aquilo que anda a fazer.
No mesmo jornal li que o maior negócio conseguido pelo grupo Lena, do amigo de José Sócrates (que continua preso preventivamente por indícios de corrupção, fraude qualificada e branqueamento de capitais), Carlos Santos Silva (que continua preso preventivamente por indícios de fraude qualificada, branqueamento de capitais e corrupção), na última década, foi o da construção de 50 mil casas na Venezuela de Hugo Chávez, num valor que poderá envolver os quatro mil milhões de dólares. Só pelo projeto, o amigo do ex-primeiro ministro cobrou 15 milhões de euros.
Penso então nas palavras que li no livro O Mistério da Légua da Póvoa, de Agustina Bessa Luís: “Não há maior desejo do que o desejo da verdade. Mas ela inspira terror, ninguém a quer ter por hóspede, nem sequer por vizinha.” O que me remete para Maupassant: “Felizes os que se satisfazem na vida, os que se divertem, os que estão contentes.”
Boris Cyrulnik, talvez inspirado em pessoas como José Sócrates, ou Pedro Passos Coelho, escreveu que a agressão esconde o desejo de seduzir.
Entretanto, tal como os animais, a maioria do povo vive porque vive, sem nunca sentir a mais pequena necessidade de justificação.
Da dúvida generalizada passamos à dívida generalizada, sem que nada aconteça, sem que nada suceda aos seus fazedores. A vilanagem continua a fartar-se à grande e à francesa.
Já todos percebemos que o afastamento crescente, talvez abissal, entre a população e aqueles que falam em seu nome, os políticos do BCI (PSD/CDS e PS), conduzirá necessariamente a algo de caótico, violento e imprevisível. Entretanto, os portugueses continuam, na sua grande maioria, emersos na apatia e na resignação.
Vai sendo tempo de despertarmos para a realidade. É chegada a altura de, porque os partidos do BCI não mudam, mudarmos nós de partido. Continuar a votar nos protagonistas deste estado de coisas é ou rematada estupidez ou masoquismo doentio.
PS – Tchékhov dizia que “a arrogância é uma qualidade que fica bem aos perus” (ou talvez aos pavões que são aves de cauda mais vistosa). Por isso, mais uma vez solicitamos ao senhor presidente da CMC e aos seus distintos vereadores, que aprovem uma auditoria independente às contas da nossa autarquia. Quem não deve não teme.
PS 2 – Em nome da transparência, já agora senhor presidente, talvez fosse boa ideia aprovar conjuntamente uma auditoria externa às contas da JF de Santa Maria Maior.
PS 3 – Era um ato de coragem redentora, o senhor presidente deixar-se de desculpas de mau pagador e pôr fim ao deplorável espetáculo dos esgotos a céu aberto em Vale de Salgueiro – Outeiro Seco.