256 - Pérolas e diamantes: a velha guarda
A grande consequência do poder dos partidos da velha guarda e dos vícios ancestrais (PSD/CDS/PS) é que deram azo a abusos tornando definitivo aquilo que devia ser transitório.
Desde logo a corrupção, instalada tanto dentro dos partidos como disseminada entre os ilustres militantes que se instalaram nos governos. E ainda a politização de tudo o que cheira a nomeações e a mediocridade da maioria dos políticos realizada, e definida por Joaquim Jorge, fundador do Clube dos Pensadores, “através do princípio da cooptação dos que fazem carreira nos partidos políticos ditos tradicionais. O princípio de seleção adversa a quem é brilhante e pode fazer sombra aos líderes e desapossá-los dos seus lugares”.
Por exemplo, a grande ideia de António Costa para o futuro governo consiste, segundo o DN, em criar pelo menos dois novos ministérios – o da Cultura e do Mar e Assuntos Europeus – e um superministro, com os poderes reforçados de coordenação.
O líder do PS prometeu também, de forma sibilina, disfarçada de medidas conducentes a esse fim, a criação de 207 mil empregos. Não de 200 mil, ou de 210 mil, mas rigorosamente de 207 mil, para aparentar um ar de seriedade. Só que não apresentou os cálculos.
Agora que estamos em campanha eleitoral, os políticos tradicionais ufanam-se no desenvolvimento da denominada “manobra da inocência”. Fazem lembrar os burgueses catalães endinheirados, descritos por George Orwell na sua obra Homage to Catalonia, que durante a guerra civil espanhola vestiam roupa grosseira da classe operária ou fatos-macacos azuis, para passarem despercebidos e não sofrerem as agruras dos tempos revolucionários.
De certa maneira, como transmontano sinto-me um pouco como os nacionalistas catalães. E por isso os admiro e aprecio o seu amor pela sua língua. Eu aclaro: na Catalunha, os poetas tinham a primazia em relação aos políticos. Isso explica por que motivo a língua e a cultura – e não a bala ou a bomba – são as armas de eleição do catalanismo.
Estou em crer que os bons políticos são raros, como os provadores de vinho que são capazes de determinar a sua fluidez e consistência só de inclinar o copo e deixá-lo repousar. Se se agarra ao vidro é um vinho ligeiro, se escorre como uma lágrima, devagar, é um vinho consistente…
Já os maus, que são os que parecem bons nas campanhas eleitorais, e que falam sem gaguejar ou hesitar, ou sem pensar sequer, trazem-me à memória as Conversas Familiares de Erasmo de Roterdão (1518), que penso ser o seu catecismo de boa educação, onde se afirma: “É sinal de boa educação cumprimentar todos os que encontramos no nosso caminho; tanto os que vêm ter connosco, como aqueles a quem dirigimos a palavra. Independentemente do que estiverem a fazer seja comer, ou a bocejar, ou a soluçar, ou a espirrar, ou a tossir. É obrigação de um homem bem-educado em extremo cumprimentar mesmo quem estiver a arrotar, ou a peidar. Mas já é má educação saudar quem estiver a urinar, ou a aliviar a natureza.”
Aí estão os fantasmas da troika (PSD/CDS/PS) a adejar, a sorrir e a pedir-nos o voto, sem um pingo de vergonha na cara. Parece que o tempo para de 4 em 4 anos. Os mesmos de sempre prometem-nos que desta vez é que é. Mas onde já se viu mudança onde não se encontram os atores que a possam fazer?
Portugal, após quatro décadas de poder aparentemente democrático, exercido em alternância pelo PSD e pelo PS, com o CDS algumas vezes a servir de muleta, fez de Portugal um país de velhos, sobretudo o interior. Os mais novos foram-se embora. Ou para Lisboa, ou para a Europa, ou para Angola. Os que teimam em ficar ou andam por aí em trabalhos de circunstância ou estão desempregados.
Por aqui não existe atividade económica, a não ser cafés, restaurantes, cabeleireiras, mercearias, lojas de circunstância e uma que outra pequena empresa de construção civil. As casas novas estão à venda mas não se vendem. As velhas desmoronam-se e ninguém lhes deita uma mão. Não há dinheiro disponível para a sua reconstrução. Agricultura nem vê-la. E fábricas nem uma que valha a pena ser mencionada. Quem é que abre aqui um negócio?
Fecharam escolas, fecharam serviços de saúde, fecharam tribunais e extinguiram freguesias. Fecharam o nosso futuro numa mala de viagem. Dizem que pouparam algum dinheiro. Duvido. Mas a qualidade dos serviços deteriorou-se de forma acentuada. Andou-se para trás.
O comendador de Madrid do século XIX, Mariano José de Larra, escreveu que “o galego é um animal muito semelhante ao homem, inventado para aliviar o burro”. Se substituirmos o “galego” pelo “transmontano”, estou em crer que não andaremos longe da verdade.
Portugal é uma espécie de metáfora, sugerindo uma estrada cheia de curvas, onde os membros do governo ultrapassam nos seus potentes carros os tratores guiados pelos presidentes de câmara que, por sua vez, ultrapassam as carroças em que o povo se desloca.
E tem esta gente a lata de nos pedir o voto!