257 - Pérolas e diamantes: Mudar Portugal
Atualmente já não faz muito sentido falar em esquerda ou em direita. Talvez por isso é que o prestigiado sociólogo António Barreto, que foi militante comunista, depois socialista, e hoje navega um pouco “mais à direita do que há 30 anos”, se define “politicamente de esquerda clássica e do centro-moderado. Se estiver muito deprimido, concluo que sou como um camaleão: ora de esquerda, ora de direita (…) A minha mais profunda convicção e a maior energia da minha vida é tentar ser um camaleão”.
A velha máxima de que o socialismo levava à abundância jaz morta e enterrada nos livros das prateleiras dos perseguidores de utopias.
Precisamos como de pão para a boca de uma organização política que tenha uma solução de governo e propostas alternativas diferenciadoras que permitam desbloquear a atual estado de inércia e apatia, este empate confrangedor entre o PSD/CDS e o PS.
A coligação PAF (PSD/CDS) quer vender-nos a ideia de que se continuarmos por este caminho de silvas, arbustos, buracos e pó de seguida chegaremos a um Portugal desenvolvido. Foi esta a senda do progresso de Salazar e deu no que deu.
Já o PS opta por outro filme. Pretende indicar-nos o caminho de mais investimento de modo a criar crescimento e com isso atingirmos o ponto de rebuçado, mas sem sacrifícios desnecessários e com mais justa distribuição dos rendimentos. A mesma receita de Guterres e Sócrates, agora com uma que outra injeção de penicilina por causa das infeções provocadas pela troika.
Já os milagreiros, e justiceiros, do PCP e do BE insistem na cassete de que não é necessário qualquer tipo de austeridade. Os comunistas tradicionalistas colocam mesmo a hipótese salvífica do abandono do euro, para dessa forma construirmos um país pobrezinho, mas honrado, onde reine a igualdade.
Ou seja, nenhum nos fala com verdade. A realidade é outra coisa.
Uma coisa é certa, o país está à beira do desfalecimento.
O nosso país, durante pelo menos, a última década, foi tomado de assalto pelos profissionais da política, pessoas cujos currículos foram construídos exclusivamente ao serviço das estruturas partidárias, para onde entraram quando jovens e aí aprenderam a arte da submissão, da traição e do seguidismo. Tal rapaziada não conhece outra maneira de estar na vida.
Assistiram à forma de vida dos seus antecessores, à maneira como sobrevivem. Os que mandam são seguidos pelos que obedecem para amanhã serem eles a mandar.
Marinho Pinto, no seu livro Mudar Portugal, conhece-lhes os principais atributos: “Subserviência, traição, conspiração, jogadas palacianas numa versão do maquiavelismo primário da política são a Bíblia de muitos dos políticos portugueses que, sobejas vezes, acabam a governar o país.”
O PSD, o CDS e o PS, não podem ser a alternativa deles próprios. A opção tem de vir de fora, de organizações políticas cujos dirigentes têm as mãos limpas, o coração independente e não se sujeitem aos proventos ardilosos dos grupos de interesses instalados na nossa sociedade.
Como defende Marinho Pinto, a frontalidade “não é, mas devia ser, uma arma política. A arma política que tem sido seguida em Portugal é a manha, o viés, o cinismo, a hipocrisia, a mentira. Mentiras que toda a gente sabe que são mentiras, mas que convém aceitar-se como verdades. O estranho é as pessoas acharem que mentem muito bem e os mentirosos não serem punidos.”
Está na hora dos portugueses recompensarem os políticos frontais, os que não possuem duas caras, os que não se ocultam atrás de máscaras, os que sabem que se andarem à chuva molham-se.
É já tempo de mandar embora esta gente que nos governa, que se serve da política e do Estado em vez de os servirem. É daí que tiram, direta ou indiretamente, os seus rendimentos, que de outra forma nunca conseguiriam.
São indivíduos sem escrúpulos, sem honra e sem verdade. São gente a quem a política permitiu, e permite, aumentar o património que nunca conseguiriam adquirir em condições normais, exercendo uma profissão no mercado de trabalho, que muitos não sabem, nem nunca saberão, o que de facto isso é.
Está na hora de castigar nas urnas os políticos que dizem sempre o que as pessoas querem ouvir, mas que de facto não sentem. Prova disso é que depois de chegarem ao poder não fazem nada do que prometeram.
Está efetivamente na hora de mudar Portugal e votar num partido que seja uma verdadeira alternativa democrática que se baseie, uma vez por todas, na verdade, na honestidade e na decência política. Temos de mudar de rumo e caminhar numa nova direção.
O caminho com os de sempre leva-nos inevitavelmente ao abismo. A política tem de ganhar de novo o sentido de serviço público, que nunca deveria ter perdido.