Espero todos os dias regressar
Espero todos dias regressar ao lugar onde nasci. E ver todos os pássaros de uma vez. Mas é Outono. E não me dou bem com os Outonos assustados.
- Venham daí as bebidas. E respondei-me, se por acaso sabeis, qual é a idade da alma dos homens?
As folhas filtram a luz das estrelas que se escoam pelos interstícios das pedras das casas de granito. Pulsa o ar nos dedos da madeira iluminada pelas candeias antigas. Pulsa o ar nas tuas costas ramificadas. É mais um sonho severo de labaredas que vazam o oxigénio das artérias. Sonhas com cavalos frios como se adormecesses na insónia dos símbolos alquímicos.
É a violência diária o que mais me aflige. A violência do ouro que depressa extingue a vida simples dos santos. Dos símbolos santos da claridade, da candidez da agonia, da graça terrestre de Deus.
Deus é uma ameaça de morte explodindo de encontro à nossa finitude.
A nossa nudez cruza o dom do prazer como se de uma visão hipnótica se tratasse.
Gravo as folhas nos músculos das casas frias, onde a carne é um centro ávido de sexo. É seda fina o brilho natural dos teus seios telúricos, como se a terra ardesse em desejo. Explodem as ruas e tu gemes como se a vida fosse eterna. Mais uma insónia me espera na sombra da tarde.
A serpente bíblica continua a fazer os seus estragos.
Deus abençoe a ideia. Deus abençoe as palavras. É violenta a ideia do pecado quando se aproxima do prazer. Mas até o prazer é violência e dor. E claridade.
Deixa-me repousar no teu esforço.