As linhas perenes
As linhas perenes das montanhas deixam-me fixo na observação dos dias. Os dias passam como universos fixos na eternidade. Lá ao longe os arbustos crescem sem se interessarem pelo instante seguinte. Há instantes longos e instantes curtos. Os pequenos animais mexem-se por instinto e por instinto fenecem. É o caos da existência. Muito olho para nada perceber. Muito percebo para nada justificar. Muito justifico para nada ter sentido. Muito pouco há para amar. Tudo justifica a vida, mas pouco justifica a inteligência. Saber voar é um sonho rápido e isso é triste. Mas nem por isso as aves deixam de nascer com esse instinto. É o instinto uma justificação vital. O vento sopra nas empenas dos telhados antigos. O musgo preenche os buracos ou alisa os caminhos dos jardins. O mundo passa ao segundo seguinte.