O movimento inútil
É-me difícil imaginar o olhar violento dos bêbados. Julgava que era de uma geração ofensiva, afinal enganei-me. Pensei muito em noites quando o vento e a chuva assolavam as minhas superstições, mas só conseguia afastar-me da realidade. Sei agora que nem o tempo nem a idade conseguem explicar o desespero. Nem sequer os filósofos ou os escritores são apropriados para aclarar a invocação da vida. Mesmo assim há quem ouse morrer reverenciando o amor possessivo. Sou agora um texto danificado de um escritor sem alma. Não é a saudade o que me queima o sonho, é o esquecimento. Há muitas noites em que não durmo. Nelas procuro ignorar a ansiedade do desgosto e por isso vou preenchendo os ângulos de pureza da poesia. É essa uma nova descoberta interior. Estou de novo obcecado. A vida é uma reconstituição inútil.