O perfume das vaginas (A favor da “A Origem do Mundo”, de Gustave Courbet).
Alguém lê paisagens saltando as linhas da violência. Vêm em estampas de ouro as cabeças das crianças. São flores dentro de flores suspensas nas paisagens. Quem quer ler aprende a sonhar. Quem quer crescer aprende a calcular. Alguém lê milagres nas vigílias dos corpos consumidos pelo desejo. É o sexo aquilo que menos fode. O sono senta-se a meio do frio lençol do final do coito. Alguém ressuscita espaços de silêncio. Ressuscitarás inclinada de orgasmos que se multiplicam em todas as coisas e em todas as direcções. Tu és parecida a uma flor que tropeça na sua beleza congénita. Desloca-se o ar desesperado pelos rios. É o perfume das vaginas. Agora chego a Herberto Hélder. Chego sempre a Herberto Hélder. Ei-lo (Vocação Animal, cadernos de poesia, 19, publicações dom quixote, 1971, página 58): “Deslocações de dedos em volta de umas ancas ferozes, mão atentamente aberta sobre uma vagina viva como uma boca nas virilhas, a flor do ânus – e depois a luz desloca-se de toda a parte para toda a parte”.