306 - Pérolas e diamantes: o caso do camarada Paulo Portas
Não simpatizo, ou melhor, não simpatizava lá muito com os cães. Sobretudo os de fila. Mas depois de ler o que li tenho de modificar a minha posição.
Estudos recentes confirmam que os cães entendem palavras e distinguem entoações.
Ao contrário de muitos humanos, conseguem mesmo atribuir significado às palavras e não reagem apenas ao tom e ao contexto.
Os cães sabem quando o dono está a chegar, sentem ciúmes, evitam tratá-los mal e reconhecem emoções nos seres humanos.
Também ao contrário de muitos humanos, preferem carinhos a comida. Mas o que me fez pensar seriamente em adquirir um, nem que seja através da Liga dos Animais de Chaves, é o facto de os donos dos cães serem mais felizes.
Segundo o estudo, ter um cão só traz vantagens: os seus donos são mais felizes, mais sociáveis, fazem mais sexo e ganham mais dinheiro.
Já alguns seres humanos, mal divergem nas amizades, começam logo a traí-las. É bem verdade que os melhores amigos dão os melhores inimigos. Eu que o diga.
Fernando Lima, que esteve ao lado de Cavaco Silva desde 1986, e foi seu assessor, decidiu escrever um livro acusando o ex-Presidente da República de ter tido medo dos ataques socráticos e de, por causa da sua temeridade, o ter despromovido na sequência do chamado “caso das escutas”.
Ter-lhe-á dito: “Tome lá cuidado.”
A infidelidade foi de tal monta que Fernando Lima, após o ataque socrático, só reapareceu uma vez num evento do PR em dezembro de 2009, aquando da inauguração da árvore de Natal.
O seu lugar na assessoria para a comunicação social foi entretanto ocupado por uma jovem que fizera carreira na JSD. Rapariga simpática, mas inofensiva e pouco experiente, contudo da confiança da família Cavaco Silva.
FL confessa que lhe aconteceram coisas que ultrapassaram a sua imaginação e que ainda hoje não compreende a razão por que Cavaco Silva teve para com ele comportamentos inexplicáveis.
Também Manuel Monteiro resolveu atacar o seu ex-amigo, e ex-presidente do CDS, Paulo Portas.
Numa entrevista ao jornal i, acusa-o de ter colocado o partido ao serviço dos seus interesses. Relativamente à aproximação do CDS ao MPLA, diz que tal posição é reveladora de “um partido que rasgou a sua história, que esqueceu o passado e que não respeita a sua própria identidade de partido que sempre lutou pela defesa da dignidade e dos direitos humanos.”
Como se isto não fosse suficiente, acusou o CDS de se “render e vender aos interesses pessoais e de negócios do dr. Paulo Portas”.
Na sua opinião, “o CDS não tinha necessidade deste sentido bajulador de quem perdeu a sua dignidade na ânsia de servir interesses que não são interesses políticos. Isto é profundamente lamentável”, desde logo porque revela “a falência do caráter, da decência e da integridade”.
Acusa ainda os elementos da direção do CDS de “não acreditarem rigorosamente em nada”. De passarem pela política para “tratar da sua vida e não da vida dos cidadãos”, confundindo “os negócios da política com a política dos negócios, que são coisas completamente diferentes”.
No seu ponto de vista, Paulo Portas “preparou todo o caminho para justificar a sua nova assessoria numa empresa que tem claramente interesses em Angola”, a Mota- Engil, “subjugando o poder político aos interesses pessoais, pois está sobretudo “interessado em enriquecer”.
Na sua opinião Passos Coelho só fala de contas e o CDS ainda não se percebeu do que é que fala.
Razão tem o personagem do romance de Victor Serge O Caso do Camarada Tulaev, Ryjik, quando após abater uma raposa cor de fogo e de focinho afilado, nas terras geladas da Sibéria, se vira para o seu companheiro de caça e murmura: “O homem é um animal mau, irmão”.
Ao que o camarada Pakhomov responde, recorrendo a todas as suas forças e quase sem fôlego por causa do frio e do esforço em mexer os esquis: “Seja como for, irmão… havemos de transformar o Homem.”