Portugal: Fotografia de corpo inteiro
“Em tempos disse que Portugal estava culturalmente morto. Talvez tenha dito em determinado momento mas também o diria hoje porque Portugal não tem ideias de futuro, nenhuma ideia do futuro português, nem uma ideia que seja sua e vai navegando ao sabor da corrente. A cultura, apesar de tudo, tem sobrevivido e é aquilo que pode dar ao país uma imagem aberta e positiva em todos os aspectos, seja no cinema, na literatura ou na arte – temos grandes pintores que andam espalhados pelo mundo. Mas o Almeida Garrett definiu-nos de uma maneira que se tem de reconhecer que é uma radiografia de corpo inteiro: «O país é pequeno e a gente que nele vive também não é grande». É tremenda esta definição mas se tivermos ocasião de verificar, desde o tempo do Almeida Garrett e, projectando para trás, efectivamente o país é pequeno. (…) E nós estamos à espera – antigamente esperávamos o D. Sebastião… - de que alguém aparecerá para nos ajudar a atravessar a rua. Tal como os cegos que ficam parados até que aparece uma alma caridosa que os leva por um braço, nós estamos sempre à espera que alguém chegue para ajudar a atravessar a rua para o outro lado.”
Uma Longa Viagem com José Saramago – João Céu e Silva – Porto Editora