O Tédio
«O tédio, Aline, é inversamente proporcional ao desassossego de estar vivo; o tédio é a demonstração de que a labareda do prazer se alimenta do seu próprio combustível. Há quanto tempo, Aline, uma nuvem não é para ti senão uma nuvem, há quanto tempo não te percorre verdadeiramente a inquietação de um corpo que se deseja? Há quanto tempo não choras a olhar a chuva contra os vidros das janelas num fim de tarde de Novembro? Há quanto tempo não agitas as mãos na água das levadas a ver a leve ondulação da corrente? Há quanto tempo não adormeces com o desassossego de saber que o mundo permanece vivo por dentro dos sonhos?»
O Prazer e o Tédio – José Carlos Barros – Oficina do Livro