O Prazer e o Tédio – José Carlos Barros
“José Carlos Barros, que não esconde as suas fontes primitivas («Um odor intenso de alecrim [conta Maria Teresa] mistura-se no ar de fuligem. Como no primeiro capítulo dos romances sul-americanos.»), constrói uma pequena maravilha romanesca como há muito tempo eu não lia. Perfeita, melancólica, cheia de amor. Arrebatadora pela sua delicadeza e pelo humor travesso que nos comove. Ele sabe o que é o efeito romanesco; ao contrário dos literatos, ele sabe o significado da palavra romance, mais próximo da sua intensidade que da sua técnica; mais próximo do amor verdadeiro do que da sua imitação literária. Por isso, O prazer e o tédio lembra-me também a loucura de Heathcliff e a melancolia de O Monte dos Vendavais. É nessa paisagem que livro recupera e trata como ninguém, José Carlos Barros revela-se um geógrafo, um topógrafo que nos comove com os seus personagens fantásticos. Diga-se que se trata do realismo fantástico português, no seu melhor, cheio de luz, acabado de inventar por José Carlos Barros.”
Francisco José Viegas
“O Prazer e o Tédio começa por ser a história de uma casa em ruínas, uma construção antiga e saturada de memórias que Aline – mulher de 40 anos em luta contra o tédio paralisante – não sabe se há-de reconstruir ou vender. Lírico e meticuloso, de início o livro avança devagar, contemplando os esplendores da bacia hidrográfica do Terva, reflectindo sobre a passagem do tempo e o modo como as pessoas se agarram à terra, ou sobre essa «finíssima membrana» que separa o prazer dos seus perigos.
Então, de repente, o texto desvia-se do rumo, acelera, mergulha no passado e transforma-se num saga familiar com vários narradores, dezenas de personagens e uma hábil oscilação entre diferentes épocas históricas.
(…) Há mulheres que adivinham o futuro, outras de cuja nudez emana uma luz que cega e queima, há vidas trágicas, amores de perdição e aromas…
(…) O Prazer e o Tédio é um dos mais arrebatadores romances de estreia publicados em Portugal na última década. Saber que o seu autor já encetou, na blogosfera, outros dois «folhetins» (As Heranças Indivisas, que se mantém a norte; e a Onda Gigante, situado no Algarve), representa uma espécie de consolo e uma nota de esperança quanto ao futuro da ficção nacional, nestes tempos em que a crise tudo parece contaminar com a sua sombra de nuvens negras.”
José Mário Silva – LER – Junho de 2009