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Jul06
Gota a gota
João Madureira
Já lá vai o tempo em que ficava horas a ver cair a chuva, como se estivesse em estado catatónico.
Já lá vai o tempo, mas não a premonição do contentamento que isso me proporcionava.
Já lá vai o tempo, mas continua a chover de vez em quando. E isso não tem nada de singular.
O sentimento alterou-se ligeiramente. Eu sinto-o diferente em alguns momentos. Mas, mesmo assim, espero os dias de chuva com muita calma e alguma expectativa.
Parece sempre a mesma chuva, mas não é. É uma chuva diferente. As gotas são idênticas, mas não são iguais. Nunca mais vão ser iguais. Na natureza nada se repete da mesma maneira. É impossível.
No entanto as gotas de água assemelham-se todas umas às outras. Ninguém consegue dizer que uma gota de água é diferente de outra, ou que esta gota de água é igual à outra. São gotas muito parecidas, mas, no entanto, são diferentes. É como a loucura.
Mesmo sendo-se louco, cada loucura tem o seu quê de específico, de singular, de diferente.
Também as gotas têm o seu quê de loucura e a loucura tem alguma coisa de líquido.
Quando a chuva cai os loucos acalmam.
E isso é um sinal de que mais logo vai chover de novo.

