O inverosímil António Lobo Antunes, disse numa entrevista recente que, na escrita do último romance Até Que as Pedras Se Tornem mais Leves Que a Água, sentiu “a mão muito feliz”, a tal mão conduzida por Deus que faz com que escreva apenas obras-primas, para gáudio dos nossos críticos literários e outros bajuladores. Pegando nas palavras da sua entrevista ao DN: “Estou-me cagando para a crítica, agora só me dão cinco estrelas por todo o lado.”
Desta vez, como em todas as outras vezes, o António mergulhou profundamente nas suas memórias para indagar sobre o amor, a morte e a vida. Dizem que o romance é sobre a relação entre um pai e um filho, com a guerra de África em fundo. Dizem que, e provavelmente vai ser complicado de identificar, o autor pretende olhar para um momento da nossa História, onde a dor, o preconceito e a impossibilidade de comunicar são os temas em análise.
Convenhamos que sobre a impossibilidade de comunicar, o António Lobo Antunes é memorável.
Desta vez li duas entrevistas suas e fiquei com um amargo de boca que já vem de longe. António Lobo Antunes fala sempre dos mesmos temas e das mesmas obsessões. Fala repetidamente da sua precocidade relativamente às letras e à forma de as alinhar de forma exemplar.
Pergunta: “Em Angola tentou arduamente fazer-se escritor?” Resposta: “Não. A minha mãe ensinou-me a ler com quatro anos, e eu comecei logo a escrever.” Bonito. A humildade já lhe vem de longe.
Sobre a guerra diz que ela dói muito. Pudera. Depois lançou esta frase: “Ninguém desce vivo de uma cruz, não é?” Se calhar não. Temos de lhe agradecer por nos tirar desta forma todas as nossas dúvidas existenciais.
Confesso que fui um leitor cortês das entrevistas do romancista. Mas agora já não. São sempre iguais. Redondas e só focadas em si. São redondas, repito, e beatíficas. E a sua prosa, que me perdoem os incautos, é uma pescada de rabo na boca.
Para Lobo Antunes não existem bons escritores contemporâneos e é preciso recuar alguns séculos para apontar cinco.
Os escritores portugueses atuais não valem um tostão furado. Salvo ele, claro está. E ele, para a salvação de nós pecadores, lê quase sempre os mesmos, os que, na sua douta opinião, escrevem bem: Fernão Lopes, Francisco Manuel de Melo, D. Duarte, Herculano e Garrett.
E Camilo? O romancista diz que não é seu admirador. Não gosta “daquela pieguice toda, mas gosta da dedicatória do Eusébio Macário.” Sim, leram bem, ele apenas gosta da dedicatória. Apenas da dedicatória. Tudo o resto é pieguice.
A determinado momento da entrevista, fica tão sensibilizado com a língua em que escreve e fala que afirma gostar muito de ser português. A seguir explica porquê. Ou melhor, elucida o que é ser português. Transcrevo, para memória futura, porque o que lá vai lá vai: “É sermos pequenos, feios, malcheirosos, com mau gosto, e quando estamos no estrangeiro e apanhamos um avião para Portugal… a gente conhece logo as pessoas, é tão bom! E temos esta língua que é maravilhosa.”
Sobre o seu romance afirma: “Claro que é um grande romance, fui eu que o escrevi.” E sobre a sua escrita conclui: “Há uma coisa que me alegra, ninguém escreve assim, mas não estou certo de ser eu que o faço…”
Lá pelo meio da entrevista, recorda Agustina Bessa Luís para cravar uma ferroada no seu arqui-inimigo de sempre e para sempre: «“Ó Saramago, você devia fumar”, “Porquê, Agustina? Fumar faz mal” perguntava-lhe ele. “Escrevia menos!” Tenho cartas dela tão giras! Um charme e um sentido de humor!»
Sobre a eterna possibilidade de ganhar o Nobel, Lobo Antunes faz de raposa em relação às uvas: “Nem penso nisso.” Declarou que este ano lhe ligaram da agência em Barcelona a dizer que receberam um telefonema, “que eu ia ganhar”. Só que uma hora depois voltaram a ligar-lhe a “dizer que tinha havido uma reviravolta.” Ele não pensava naquilo. Afinal já ganhou “tudo quanto havia”. Menos o Nobel. E elucida: “Ahhh, depois vieram cartas, três da Alemanha e de pessoas que eu não conhecia, com artigos que já estavam prontos para sair em jornais alemães. Isto é tudo idiota, não é? Depois ganhou aquela merda! [Kazuo Ishiguro]”
Sobre as críticas não liga. Diz que não liga. Se o Zé [Cardoso Pires] lhe tivesse dito “este livro não presta”, aí ele ficava à rasca.
Pergunta da jornalista (Isabel Lucas – ípsilon ): “Alguma vez lhe disse isso?” Resposta: “Não. O Zé estava convencido de que eu era um génio.”
Na minha modesta opinião, acho que não só o Zé. Espelho meu, espelho meu, há no mundo escritor mais genial do que eu?
Segundo João Céu e Silva, o modesto Lobo Antunes acumula livros de vários autores por toda a casa, mas no seu escritório só os seus entram. Centenas de volumes de sucessivas edições e traduções vindas de quase todo o planeta.
Desta vez até condescendeu em falar de futebol e do clube do seu coração. É com três isqueiros do Benfica, oferecidos por um amigo, que A.L. A. acende os muitos cigarros que fuma. Atualmente surpreende-o “esta sujeira de empresários, isto e aquilo e do dinheiro que deixou de ter valor. O Benfica nasce de uma vontade do povo”. Antigamente “havia um amor ao clube. Agora não, com estes presidentes, mediocridade e coisas que não me parecem sérias. Não sei se são ou não, mas não me parecem. Quero lá saber desses mercenários de merda”. E de uma penada matou a águia, ou o que ainda sobra dela.
Não posso finalizar sem partilhar convosco um episódio da luta antifascista relatado pelo próprio: «“Fui o único que torturou um pide, feriu-se e cozi-o sem anestesia. O gajo gritava como um danado com a água destilada, que dói para burro, e dizia-lhe: “Está para aí a chorar e eu a dar-lhe anestesia.” Deu-me prazer porque estava zangado.»
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