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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

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12
Fev18

379 - Pérolas e diamantes: Trump até ao pescoço...

João Madureira

 

 

Eu bem desconfiava, afinal Trump não é um intruso, é simplesmente uma supermarca made in America.

 

Esta é, pelo menos, a tese do livro Dizer Não Não Basta, de Noami Klein. Em entrevista ao ípsilon, a escritora americana afirmou que Trump, por radical que seja, “é menos uma aberração do que uma conclusão lógica – um pastiche de praticamente todas as piores tendências dos últimos cinquenta anos”.

 

O livro é ainda uma denúncia ao modo como certo jornalismo se tornou refém, e mesmo parte ativa, da realidade como espetáculo. Como se os jornalistas também dissessem que a realidade faz parte do grande circo com que nos entretêm e nos deixamos entreter.

 

Trump enganou os americanos com a sua agenda económica. Todos nos lembramos de, durante a campanha eleitoral, por exemplo, afirmar que o facto de ser rico lhe permitia ser imune a pressões corporativas e por isso ia tirar as grandes empresas de Washington.

 

Tudo não passou de mais uma mentira. De facto, o loiro presidente dos EUA escancarou as portas a interesses privados poderosos. Fez com que as empresas petrolíferas aumentassem os seus lucros, retirando, ao mesmo tempo, cuidados de saúde para benefício das seguradoras.

 

A esquerda, na opinião de Noami Klein, limitou-se a “metabolizar Trump, como se fosse um intruso vindo de fora, um alien num sistema político que de outra forma estaria saudável, como se dissessem que sem Trump tudo estaria bem”.

 

A autora vê Trump como uma genuína criação americana, mesmo “sabendo que há muitos bons produtos made in America.”

 

Trump limita-se a ser um ator de comédia, uma caricatura muito exagerada de uma pretensa evolução da herança cultural e política dos EUA. Por isso é necessário entender o caminho que o levou a Presidente.

 

O problema, para a autora, está no facto de alguém “ainda mais perigoso do que ele vir a ser presidente depois dele”. Convém não esquecer que há na política americana gente pior do que Trump, “abertamente racista e mais competente”.

 

Tudo está a mudar rapidamente. Trump é, de facto, o primeiro grande Presidente Twitter, que governa à velocidade das redes sociais. O Presidente dos EUA criou uma espécie de “aceleração emocional”. E à medida que a sua agenda fica mais clara, ao contrário da agenda da oposição, mais preocupante se torna.

 

Trump não é apenas o legado do neoliberalismo, “é também o legado da supremacia branca profunda nos Estados Unidos que nunca foi devidamente questionada”.

 

Para Noami Klein, Trump “não é apenas o legado de Obama, mas também é o legado de Obama e de Bill Clinton no sentido em que Hillary Clinton foi desacreditada por muitos votantes brancos por causa do que o marido fez”.

 

Apesar de haver muitas coisas perigosas que estão a acontecer, também sabemos que é possível chegar aos eleitores com uma agenda distinta, mais igualitária, mais distributiva.

 

Todos sabemos a razão do êxito do neoliberalismo: pessoas terrivelmente zangadas com as políticas de austeridade, suscetíveis às campanhas do medo que lhes dizem que as alternativas são piores, que as alternativas representam o apocalipse.

 

Com Trump na presidência dos EUA é como se estivéssemos a assistir a um reality show.

  

Ele é mesmo capaz de adulterar factos e informações, ofender pessoas por puro capricho, fingindo que pode alterar a realidade. Trump é entretenimento. E, como sabemos, o entretenimento causa dependência e pode tornar-se perigoso. O que interessa é que as audiências continuem altas, muito altas mesmo.

 

Trump vive rodeado de uma elite de multimilionários e bilionários que acreditam estar imunes aos problemas que afetam o resto da humanidade. Acreditam que se podem salvar de um desastre planetário. O Presidente crê que a sua riqueza é capaz de o salvar dos impactos e fazer com que consiga ficar ainda mais rico.

  

Mas esta narrativa já vem de longe. Há quem considere que os bilionários são pessoas capazes de resolver problemas coletivos “por causa dessa equação de riqueza com independência”.

 

Antes, os grandes problemas coletivos eram tratados como problemas dos governos dos países ou de organizações internacionais. Agora os bilionários como Richard Branson e Bill Gates são vistos como figuras de grande boa vontade simplesmente por doarem parte da sua riqueza e por terem sido capazes de a acumular.

 

Por isso é que em vez de movimentos de cidadãos temos as mais diversas organizações a competir por dinheiro. E a corrupção alastra. E os demagogos chegam ao poder.

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