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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

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08
Abr19

437 - Pérolas e Diamantes: Os bichons e a parte sombria da economia

João Madureira

 

 

Confesso que gosto muito de mapear o território mental de Michel Houellebecq. Foi com ele que me convenci de que a filosofia marxista-leninista não é marxista, nem leninista e muito menos é filosofia.

 

Também foi com Houellebecq que me interessei pela origem dos bichons. Embora a origem destes cães remonte à Antiguidade – pois foram encontradas estátuas de bichons no túmulo do faraó Ramsés II –, a introdução dos bichons bolonheses na corte de Francisco I ficou a dever-se a um presente do duque de Ferrara. Dizem as crónicas da altura que a remessa, acompanhada de duas miniaturas do pintor Correggio, foi imensamente apreciada pelo rei francês, que considerou o animal “mais digno de ser amado que cem donzelas”. Em troca, concedeu ao duque uma ajuda militar decisiva para a conquista do principado de Mântua.

 

Tornou-se então o bichon no cão preferido dos diversos reis de França, principalmente de Henrique II. Depois foi destronado pelo pug carlin e mesmo pelo caniche.

 

Ao contrário de outros cães, como o shetland ou o terrier tibetano, só bem tarde é que ganhou o estatuto de “cão de companhia”, já que desde os primórdios tinha sido apenas um “cão de trabalho”.

 

Ou seja, o bichon, desde a sua origem, foi um cachorro cuja razão de ser nunca ultrapassou a tarefa de levar aos donos alegria e felicidade.

 

E é esta a sua atual função. Que cumpre com perseverança. É também paciente com as crianças e meigo com os velhos, desde há inúmeras gerações.

 

Sofre imenso quando está só, o que deve ser levado em conta quando se é levado a comprar um lá para casa.

 

O bichon encara qualquer ausência do dono como um abandono e todo o seu mundo, a sua estrutura e a sua essência se desmoronam num instante.

 

Está sempre sujeito a crises de depressão severa, o que o leva a recusar alimentar-se. Ou seja, é fortemente desaconselhável deixar um bichon sozinho, mesmo que seja apenas por umas horas.

 

Nos livros de Michel Houellebecq, além de bichons, também podemos encontrar muito sexo. É um escritor fascinado pela sexualidade, até porque considera, tanto o próprio como as suas personagens, que ela é a manifestação mais direta e mais evidente do mal. Desde os primórdios os crimes que não possuem por móbil o sexo, têm por causa o dinheiro. E vice-versa.

 

Parece que a Humanidade continua incapaz de imaginar outra coisa além disso, pelo menos em matéria criminal.

 

Parece também que os seus personagens, além de gostarem de bichons e de sexo, apreciam comer aipo com molho rémoulade. Que eu não sei bem o que é, mas preparo-me para o pesquisar na Internet com a firme intenção de o cozinhar.

 

No entanto, a maioria das personagens do escritor francês, sobretudo as femininas, desconfiam da Economia.

 

As teorias com que os especialistas tentam explicar os fenómenos económicos e prever as suas evoluções, parecem-lhes uniformemente inconsistentes, temerárias. Ou seja, não passam de puro charlatanismo. Sendo até surpreendente que atribuam um prémio Nobel da Economia, como se esta disciplina possa gabar-se da mesma seriedade metodológica e do mesmo rigor intelectual da Química ou da Física.

 

Como é que uma disciplina que nem sequer consegue fazer prognósticos que se confirmem há de poder ser considerada uma ciência?

 

Enquanto as mulheres fazem perguntas com esta pertinência, os homens, nos livros de Michel H., apenas se limitam a olhar para os seios delas, mas abstendo-se de interromper.

 

Ao que tudo indica, parece que elas não leram Popper. Eles, incapazes de responder, limitam-se a pousar as mãos nas coxas delas. Elas, escreve ele, limitam-se a sorrir e depois a dizer que o jantar não tarda a estar pronto.

 

Outra constatação das suas personagens: quase ninguém tem comportamentos de consumo inteiramente racionais. Provavelmente esta indeterminação fundamental das motivações dos produtores, assim como a dos consumidores, é a que torna as teorias económicas tão temerárias e, no fim de contas, tão falsas.

 

Ou seja, a existência de agentes económicos irracionais é definitivamente a “parte sombria”, a falha secreta, de qualquer teoria económica.

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