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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

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15
Abr19

438 - Pérolas e Diamantes: A nova realidade

João Madureira

 

 

A nossa pretensa modernidade faz-nos viver em permanente sobressalto. E como passamos muito tempo a ver televisão, os sintomas costumam agravar-se.

 

Agora é a poluição. Claro que poluímos em demasia, mas o que vamos fazer? A maior parte das vezes pregamos moral às pessoas. Mas vamos ter de acreditar numa resposta científica para o problema. Temos de dar dinheiro aos investigadores, aos laboratórios e às universidades para podermos resolver o problema numa base sustentável.

 

Afinal, já existem carros elétricos, edifícios inteligentes que reciclam a energia, a água e o lixo. E parece que não é a moral, nem as boas intenções, quem regula isso.

 

Uma coisa é pedirmos a uma criança ou a um adulto ocidental que consumam menos carne. Outra bem distinta é pedir aos chineses ou aos africanos, que começaram a comer um pouco mais de carne, a deixar de a consumir. A moral, que é um alimento apenas espiritual, é boa para uma elite, mas não serve como solução global.

 

Por cá, as pessoas queixam-se amargamente de que não podem ir passar férias ao estrangeiro como se isso fosse um atentado aos direitos humanos. Dantes nem sequer havia férias. Agora até os nossos queridos reformados, que costumavam ser avós tranquilos que ficavam em casa a gozar os rendimentos e a ver televisão, fazem questão de ir a Cuba ou à Tailândia. E também aos restaurantes.

 

Por cá abundam os reformados, a educação é gratuita, a saúde é fortemente subsidiada e a segurança social abrangente. Mas o capitalismo cria necessidades de tal modo fortes que as pessoas pensam que vivem num inferno.

 

Uma das fontes deste mal estar é o individualismo.

 

O individualismo rompeu com o mundo da tradição e da religião, que costumava regular os nossos comportamentos. As pessoas podiam não ser felizes, mas acomodavam-se à situação. Agora não se conformam. Os coletes amarelos aparecem como força reivindicativa num dos países mais avançados e prósperos do mundo: a França. E isso significa alguma coisa.

 

Tocqueville assegurava que existia uma tendência nas sociedades para preferirem a segurança à liberdade. Os movimentos emergentes por esse mundo fora vão nesse sentido.

 

Se as democracias não forem capazes de criar emprego e de oferecer perspetivas de futuro, as pessoas vão poder achar que a democracia não funciona e defenderem, por isso, os sistemas autoritários.

 

Como no capitalismo se criou a sedução pelas férias em lugares exóticos, os políticos democráticos e liberais tentam seduzir o eleitorado com promessas irrealizáveis. Daí resulta o populismo.

 

Antigamente havia o voto de classe. Um operário votava comunista, pois recusava-se a votar na direita. Hoje o eleitorado é pouco ideológico. Olha à sua volta e experimenta. Faz como quando vai ao supermercado, aproveita as promoções.

 

Por incrível que pareça, este individualismo vem do Maio de 68. É filho da contracultura.

 

Este capitalismo emergente, moderno e simpático, não se cansa de criar necessidades, de convidar ao prazer, de renovar constantemente o nosso quadro de vida.

 

O capitalismo, como constatou o filósofo francês Gilles Lipovetsky, é atualmente a grande força revolucionária.

 

A esquerda pode continuar a vociferar, mas não se vislumbra no horizonte uma alternativa motivadora ao capitalismo.

 

Até porque o capitalismo nunca foi hostil a um certo nível de controle. Claro que cria grandes problemas, mas essa é precisamente a sua força. Quando emerge uma crise, corrige. Quando sucede outra, volta a corrigir. Sendo sempre o mesmo sistema, é sempre diferente.

 

O capitalismo criou uma nova realidade, vinda de um individualismo assumido. Mas os profissionais do pensamento não se aperceberam disso. Alguns chamaram-lhe filosofia pop.

 

Bem vistas as coisas, o egoísmo acompanha a história da humanidade. Nisso não há nada de novo. Só que nas sociedades antigas existiam sistemas de referência que enquadravam o indivíduo. Agora existe um vazio difícil de preencher.

 

O consumismo derrotou o comunismo e alterou a nossa forma de viver.

 

Muitas das pessoas que ficaram fora da globalização viram o seu nível de vida a descer e revoltaram-se.

 

Esta é a nova realidade. Vamos ver qual a resposta que o capitalismo lhe dá.  

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