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Jun06
Céu muito nublado
João Madureira
Não vás com tanta velocidade.
Achas que sou oligofrénico?
Não. Nem por isso. Mas o que é quem tem isso a ver com a velocidade?
Tudo tem a ver com tudo.
Não sei se és oligofrénico ou não. Tenho a certeza é que aceleras muito dentro das cidades.
Só dentro das cidades?
E fora delas. Tu aceleras em qualquer lado.
Mas achas mesmo que sou oligofrénico?
O que tu és é maluco.
Então achas que sou mesmo oligofrénico.
O que tu és é um chato.
Modera-te. Oligofrénico sim, chato nunca.
Que nuvens tão escuras.
Não disfarces.
Vem aí uma trovoada das grandes.
Não desvies a conversa.
Deixei a roupa a secar na varanda e vai molhar-se toda.
Eu preocupado com a minha oligofrenia e tu pensas só na tua roupa! És uma ingrata.
A roupa também é tua e dos garotos. E a ingratidão tem as costas largas.
Tens razão, as nuvens são mesmo ameaçadoras.
Eu não te disse.
Achas que sou mesmo oligofrénico?
Não, não acho. O Mundo é que não te compreende.
Assim está melhor. Mas não dizes isso só para me agradar, pois não?
Não.
Não?
Não.
Escusas de ser tão evasiva.
Eu não sou evasiva, sou sincera e curta de palavras.
Então achas que não sou oligofrénico.
Não dizes nada.
Vai mais devagar que isso passa. Temos muito tempo para chegar.
Mas não disseste que querias chegar a casa rapidamente para apanhares a roupa que se pode molhar?
Que se lixe a roupa. Eu quero é chegar a casa tranquila e inteira.
Achas que sou oligofrénico?
Achas ou não? Diz a verdade.
Está bem, eu vou reduzir a velocidade. Começou a chover. Eu gosto da chuva. E tu?
Olha, liga o rádio.
O teu basta.
Achas que sou oligofrénico?
Im singing in the rain