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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

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17
Fev20

481 - Pérolas e Diamantes: O triunfo da mediocridade

João Madureira

 

Claro que todos temos direito à nossa opinião. Era o que mais faltava. Mas, entendamo-nos, ter direito a ela não quer dizer que a opinião de uma pessoa tenha tanto valor como a de outra. Por exemplo, a opinião de um ciclista sobre esse tipo de desporto tem de valer mais do que a minha, já que não o pratico.

 

Há muita gente zangada por aí e é avisado não nos colocarmos na sua linha de fogo. Quase sempre os mais ignorantes são os mais atrevidos. A ignorância consegue conferir razão a quem a não tem. A sabedoria costuma assentar em algumas justificadas incertezas, dúvidas e consensos.

 

Também existem os que assumem uma humildade fingida, revelando, provavelmente, uma finalidade quase pedagógica. Sobrevoam as instituições procurando uma pretensa autoridade académica. Mas a realidade condu-los, quase sempre, à sua medíocre cátedra. Dizem que se comovem com os livros. É mentira. O seu espírito está saturado de fingimento. Quando lhe fazem um convite cultural, costumam desculpar-se com a saúde da mãezinha que vive noutras terras. Ou então com os netos.

 

Nas letras, como na política, a troca de fichas é muito grande. Quase ninguém se entende. Quase ninguém as entende. Nivelam-se os bons com os médios e estes com medíocres. Muitos até conseguem ser premiados. A literatura atual é feita de verbetes, falsetes e revela uma falta de sensibilidade e gosto que roça a indigência cultural.

 

Desconfio sempre daqueles que escrevem mais do que aquilo que leem.

 

Como defendeu Samuel Johnson, é muito melhor ser maltratado do que esquecido, até porque é muito mais fácil ter desígnios do que agir.

 

Aos zangados faltam-lhes estímulos emocionais. Andam sempre à procura de desculpas.

 

Todos precisamos de experienciar. Coitados dos que necessitam de se enfurecer para se sentirem vivos.

 

Há pessoas que não gostam de coisas velhas, mas também não gostam das novas. Gostam é de se chatear. De se zangar.

 

Os homens passeiam os cães e os jovens costumam ir para os jardins mostrar o seu ar enfadado, as calças rotas nos joelhos, enquanto enfiam o olhar nos ecrãs dos seus telemóveis inteligentes. Alguns namoram, mas com gestos estudados.

 

Outros vibram e dizem amar por antecipação.

 

Há ainda uns outros que dizem atribuir demasiada importância à leitura, desenvolvendo uma espécie de obsessão neurótica pela leitura e pelos seus supostos benefícios morais.

 

Não apreciam plantas, flores, mas penduram na parede a reprodução emoldurada dos girassóis de Van Gogh.

 

A frivolidade descontraída das conversas não é em si mesma um problema. O problema está na sua permanente continuidade.

 

Querem ver.

 

Primeira: Um estudo realizado nos Países Baixos revelou que as mulheres que ingerem uma dieta rica em fruta e legumes têm mais probabilidades de ser mães de meninas.

 

Segunda: Uma loja em Lisboa prometeu roupa de graça às primeiras cem pessoas que aparecessem no primeiro dia de saldos vestidas apenas com roupa interior.

 

Walt Disney já tomou de assalto os governos ditos democráticos do Ocidente. Os donaldes, os patetas, os tios patinhas, as minies, os irmãos metralha e os miqueis governam-nos com a frivolidade costumeira.

 

É também confrangedora a monocultura dos nossos académicos e das ditas elites. Sente-se uma certa vibração no ar que pode possibilitar a violência. Como já disse, anda por aí muita gente zangada.

 

A coexistência é amarga, rancorosa, ressentida.

 

Tornou-se evidente que a esquerda portuguesa é uma intrujice e a direita não passa de um anacronismo. Já o centro é o zero absoluto. Nem sim, nem sopas. Já não existem fronteiras, mas apenas zonas económicas.

 

Com a retórica do serviço público, os políticos procuram essencialmente a sua própria promoção social. E falam-nos, ad nauseaum, com a máxima sinceridade, a máxima responsabilidade e a máxima solidariedade. Iludem-nos desde o zero até ao infinito.

 

A definição doutrinária da direita e da esquerda vive na perpétua guerra de alecrim e manjerona entre pequenos grupos, que, pretextando uma qualquer dissidência ideológica, se juntam à volta de pequenos caciques.

 

Perante a desordem democrática, a mediocridade triunfa.

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