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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

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27
Set21

559 - Pérolas e Diamantes: A espuma das ondas

João Madureira

Apresentação3-2 - cópia 7.jpg

 

Ler um capítulo do Harry Potter a um filho, ou filha, antes de o aconchegar na cama, pode tranquilizar um pai com ambições políticas ou sociais, mas não faz nada pela cultura do seu descendente.

 

Até é bonito ter uma moradia moderna e preparar refeições saudáveis, que podem durar semanas, mas... mudar a ideologia não é o mesmo que mudar as circunstâncias.

 

Num jardim zoológico ninguém é capaz de se abster de fazer caretas aos chimpanzés. E de falar nos tratados de não-proliferação das armas nucleares. E dos impostos. E do aborto. Mas o grande problema é quando uma tempestade tropical se abate sobre as calotes polares.

 

Claro que até ao momento de hoje, tal não aconteceu, mas... nas coberturas noticiosas tudo é possível. Os pesadelos lúgubres flutuam nas nossa imaginação como cadáveres adiados. Pacientes idosos encurralam-se em hospitais. Há pilhagens. E desalojados. E a esperança perde-se.

 

A vulnerabilidade dos governos é um mito envergonhado. É uma realidade encolhida.

 

Perfilho a convicção de que o nosso regime político, ora mais à esquerda, ora mais à direita, é estruturalmente uma social-democracia de refugo. Sendo que ao Presidente da República está destinado o papel de biombo do regime. Umas vezes bobo da corte institucional, outras vezes bombo da festa partidária. Limitando-se ao triste papel de protagonizador de consensos inventados e a um silêncio amargurado em nome do supremo interesse da nação. Parece o putativo chefe de uma espécie de maioria silenciosa que não vota, nem quer votar. A democracia não é uma coisa desprezível, mas é uma coisa desprezada.

 

A vitória, dizem os líderes guerrilheiros, é sempre mais importante do que a vida. Isso é que era bom!

 

Tudo o que sabemos ao certo é que não sabemos nada ao certo. A verdadeira audácia passa sempre primeiro pelo fingimento.

 

Mas, verdade seja dita, o país continua a sofrer vítima da paixão de muitos e da incompetência de outros tantos. As frases altissonantes e as certezas absolutas continuam a demonstrar o seu vazio. Não se podem condenar os atos de corrupção dos outros encobrindo os nossos. A mentira tem sempre perna curta.

 

Chega-se ao cume do poder recorrendo ao silêncio, ao cálculo e à dissimulação. Por isso é frequente as políticas desses políticos darem com os burrinhos na água. Depois cresce o desprezo. A verdade é que não é possível confiar em quem se desconsidera.

 

O Serviço Nacional de Saúde é vítima de irresponsabilidade e decadência; a educação é mais palavrório que arte e competência; e a justiça, na prática, não existe, pois passa o tempo a remediar e a esconder a sua inépcia. E, para aguentar o descalabro, o Estado pede dinheiro.

 

Os governos, entretanto, revelam predominantemente a sua incompetência e os senhores Presidentes da República vivem triunfalmente dentro da sua irrelevância.

 

A verdade é que perante Cavaco, Sócrates e Passos Coelho, até António Costa e Marcelo R. de Sousa nos parecem pessoas competentes, honradas e sérias. Depois da ruína, o que nos resta? O descalabro?

 

A verdade é que há que responsabilizar alguém pela nossa altíssima dívida pública. E o governo de Sócrates não chega. Pois também há que incluir na lista os governos de Guterres, de Durão Barroso e ainda o do inenarrável Cavaco. Em boa lógica, se formos à procura de culpados, não escapa ninguém desde o 25 de Abril.

 

Toda essa tribo ganhou um ar de respeito, adotando fato escuro ou com riscas fininhas e discretas, falando de dedo esticado, de quem nos ameaça com a sua sábia sabedoria e o seu sorriso fátuo inerente à sua inatacável superioridade.

 

Os mais intensos, deixam de fumar, começam a fazer jogging e alguns até correm a meia maratona. Deixaram de ser autoritários, reservados, austeros ou arrogantes. Dizem-se firmes nas suas convicções. Dizem-se fiéis à sua missão. E dedicam-se mais à contemplação e ao pensamento.

 

Continuam a ter pena de não conseguirem tempo para a leitura, mas a obsessão pelo trabalho persiste. Citam Ortega y Gasset, por ser um bom filósofo. Dizem-se políticos, mas não passam de montagens publicitárias polidas, vácuas e inócuas.

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