567 - Pérolas e Diamantes: Todos os cuidados...
A viúva de Wagner transformou Bayreuth numa espécie de templo para um grupo de seguidores dedicados a cultivar a memória sagrada do mestre. As opiniões desse grupo eram de um antissemitismo raivoso, chegando a interpretar as óperas de Wagner como opondo heróis nórdicos contra os vilões judeus, embora a sua música pudesse ser interpretada de muitas outras maneiras.
As duas figuras de proa do círculo de Bayreuth eram Ludwig Schemann, um intelectual que tinha traduzido o tratado do francês Joseph Arthur de Gobineau sobre a desigualdade racial para alemão, e o inglês Houston Stewart Chamberlain, que desposou umas das filhas de Wagner e publicou uma biografia elogiosa do grande compositor.
Cosima e o seu grupo de amigos difundiam as suas ideias através da publicação mensal do boletim Bayreuther Blatter, enquanto Schemann viajava pelo país falando em reuniões antissemitas e fundando distintas organizações racistas radicais, nomeadamente a Sociedade Gobineau, em 1894.
O seu sucesso foi limitado, mas a difusão das ideias do teórico racial francês por Schemann contribuiu muito para consagrar o termo por ele inventando (“ariano”) nos meios racistas alemães. Esta designação, originalmente usada para denotar os antepassados comuns dos falantes de línguas germânicas como o inglês e o alemão, começou a ser utilizado devido ao argumento de Gobineau segundo o qual a sobrevivência racial só podia ser garantida pela pureza racial, que estava supostamente preservada no campesinato alemão ou “ariano”, e que a mistura racial resultava num declínio cultural e político.
Mas o maior impacto resultou do livro de Chamberlain, Os Fundamentos do Século XIX, publicado em 1900, obra vaporosa e mística, onde o autor retrata a história em termos de luta pela supremacia racial que tinha mantido a sua pureza original num mundo de miscigenação.
Segundo Chamberlain, os cultos e heroicos alemães tinham pela frente os implacáveis e tenebrosos judeus, que não deviam ser menosprezados como grupo marginal ou inferior, elevando-os ao estatuto de ameaça cósmica à sociedade humana.
Na sua perspetiva, a luta racial estava ligada a uma luta religiosa.
Grande parte do livro tenta provar que o cristianismo era essencialmente germânico e que Jesus, não obstante todas as provas em contrário, não era judeu.
O livro de Chamberlain impressionou muitos leitores, pois apelava à ciência para justificar os seus argumentos.
O autor de Die Grundlagen des Neunzehnten Jahrhunderts desenvolve a fusão do antissemitismo e do racismo com o darwinismo social.
O cientista inglês Charles Darwin afirmou que os reinos animal e vegetal estavam sujeitos a uma lei de seleção natural na qual os mais aptos sobreviviam e os mais fracos ou menos adaptados morriam, garantindo dessa forma o melhoramento da espécie.
Os darwinistas sociais aplicaram este modelo à raça humana. Foi dessa maneira que se fundiram alguma ideias-chave posteriormente adotadas pelos nazis.
O antropólogo Ludwig Woltmann, em 1900, aventou que a raça ariana ou alemã representava o apogeu da evolução humana e, por isso, era superior a todas as outras. Disse ele: “A raça germânica foi escolhida para dominar a terra”. Mas existia um problema: as outras raças estavam a impedir que tal acontecesse.
Em 1912, o general Friedrich von Bernhardi disse que a guerra era “uma necessidade biológica”. Escreveu num seu livro que “sem a guerra, as raças inferiores ou decadentes abafariam facilmente o crescimento dos rebentos saudáveis e seguir-se-ia a decadência universal.
O antissemitismo e a higiene racial foram os componentes principais da ideologia nazi.
Heinrich Schartz e outros académicos alemães difundiram a ideologia dos irmãos de armas através de diversas publicações, mas a maior influência desta ideologia foi sobre o movimento juvenil, no qual os jovens, na sua maioria da classe média, faziam caminhadas no meio da natureza, cantavam canções nacionalistas à roda da fogueira e desdenhavam da política bafienta, da moralidade hipócrita e do artificialismo social do mundo dos adultos.