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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

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06
Fev23

623 - Pérolas e Diamantes: A patifaria

João Madureira

Apresentação3-2 - cópia 8 (1).jpg 

Sim, estamos possuídos, não pelo Demónio, mas por uma casta que se incrustou no uso e abuso do Estado. Não por bolinhas de sabão saloias mas por bolhas de favorecimento que beneficiam sempre os mesmos. A maioria ao centro do poder político tem gozado de uma impunidade que lhe permite gerir a corrupção de forma normativa e normalizada. A “oposição democrática” não passa de uma invenção. Tudo o que começa diferente acaba por ser engolido pelo proselitismo desconcertante e pela prosápia da cumplicidade. O nevoeiro dos interesses tudo encobre. Os erros ocasionais fazem parte da construção meticulosa das redes do poder. Apesar do que por aí se propaga, a hegemonia burguesa sobre a economia continua a comandar a reprodução social e é ela quem seleciona a casta de governantes. E as chefias das empresas. Mais de metade dos nossos governantes emigrou do topo do Estado para o topo das empresas financeiras e para o imobiliário. São também eles que gerem as parcerias público-privadas. Todos esses cargos são estratégicos. É o nosso triângulo das Bermudas: partidos-governos-empresas. Tudo isso nos leva a concluir que estamos subjugados à prepotência do poder, à incompetência política dos denominados democratas de bolso, à miséria ética, às ambições desmedidas, às traições, à pornografia ideológica, aos jogos de bastidores, à ganância das castas partidárias, à aldrabice. Tudo isto embrulhado em linguagem de duvidosa legalidade servida em travessas de descarada hipocrisia. E o comboio a apitar, o presidente Marcelo a ciciar beijos e a sussurrar hipocrisias de beato informal, e o António Costa a sorrir sem saber para onde se virar. O poder é uma incerteza. Já não há pachorra para tanto erro. E o Estado a injetar dinheiro em balões de hélio. Tudo um pouco ao deus-dará. Todo o capital a desaparecer em empresas de transição. Tudo caótico. Todos contaminados pela intrujice, pela demagogia, pela roubalheira, pela quimera do Estado Social. Todos vacinados contra os vírus. Tudo a apodrecer, apesar de estar embrulhado no vácuo. As lideranças são fracas, corruptas e corruptoras. Todos criticam mas ninguém faz nada de relevante para que a situação se modifique. Os sistemas de nepotismo e favoritismo endémicos permanecem e a má gestão de dinheiros públicos é um crime diário. E a democracia a cair como um baralho de cartas. E o PS a assobiar para o lado, e o PSD a lançar bombas de carnaval, e o Chega a cantar fados de faca e alguidar, e a IL a bailar slows, e o BE a dançar kuduro, e o PCP a malhar em ferro frio, e o PAN a ensinar os cães a falar, e o Livre a fazer de bom samaritano. Com todo este circo, um dia a barraca vem abaixo. O facilitismo é endémico, provavelmente intencional, a negligência é hábito, a insensatez é cultural, e a falta de cultura premiada. A verdade é que os meninos de ouro que nos governam não passam de joias de pechisbeque. A política, sobretudo a ligada aos partidos, já começa a feder. O problema é que quem está em contacto diário com o odor, acaba por ser-lhe insensível. E isso não é bom para o regime democrático. Ainda é cedo para dizer se isto vai de mal a pior, mas pelo caminho que leva ainda vamos dar com os burrinhos na água. Há por cá muita gente a aspirar ao grande poder, mas nunca lá chegará porque apenas aprendeu a dominar o poder pequeno. Fazem lembrar a rã que queria ser do tamanho do boi. Lembram-se do José Sócrates?, por incrível que pareça tem muitos mais admiradores, e imitadores, do que aquilo que se pensa. Ou admite. Ninguém consegue resistir à usura, à banalização e ao envelhecimento. Pode haver por aí ainda alguns restos de sentimento, um certo estilo e uns laivos de euforia, mas já não há substância. Governar, nos tempos que correm, é navegar à vista. Existe, espalhado pelo país, um sentimento difuso de perda e melancolia. Sobretudo a sensação de perda de soberania, pois o Estado português, por muito que se disfarce e diga o contrário, está refém dos lobbies e dos grupos de interesses ligados à construção civil e afins, da indústria farmacêutica, da banca e dos poderosíssimos escritórios de advogados. Para nossa desgraça, a patifaria está devidamente organizada em Portugal.

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