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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

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24
Jul23

644 - Pérolas e Diamantes: A forma e o conteúdo

João Madureira

Apresentação3-2 - cópia 7 (2).jpg  

Os políticos de agora são atores da cabeça aos pés: jovens, atléticos, muito bem postos dentro dos seus fatos de galã de província, prontos para encantarem as senhoras de meia-idade, concebendo a política como um espetáculo, pois acreditam que já não é a realidade que cria as imagens, mas as imagens que criam a realidade. A maioria deles pensa que estão a posar para a história, mas, verdade seja dita, apenas posam, ou se arranjam, para a foto que vai sair no jornal local que eles subsidiam a seu belo prazer. Não posam para a posteridade, mas para o ridículo. Combinam a sua mediocridade com o melodrama. São devotos do poder. Sem ele não são nada. Todas estas coisas da política e da conquista de poder são feitas com um elevado grau de improvisação. Todos eles, sem exceção, acabam sempre por mudar algo para que tudo fique na mesma. Quem conhece esses meandros, sobretudo os do poder autárquico, sabe que por lá está tudo muito bem atado. E os interesses garantidos. A política autárquica, por muito que nos custe, é uma ilha, um eufemismo, rodeada de dinheiro e interesses por todos os lados. E a verdade é que o arquipélago autárquico já tomou conta do território. A sua autonomia e independência são apenas semântica ou conceitos vazios de substância que cada um vai preenchendo consoante os seus interesses. E a democracia é uma questão de forma, quando não um pró-forma. A legitimidade popular não passa de um conceito vago que quanto mais propalado é mais inoperante se torna. É triste, mas verdadeiro, ver os mais exímios democratas terem atuações de sabotadores da democracia que dizem defender e amar. Não é a realidade que luta contra a democracia, é a democracia que parece querer lutar contra a realidade. Sobejam argumentos, mas faltam as razões. A mediocridade é, especialmente no poder local, uma coisa de bradar aos céus. Alguns vereadores são manifestamente incompetentes, quer na sua dimensão política, ou meramente técnica. Quando o problema é político, dão respostas técnicas. E quando o problema é técnico, desculpam-se com os subalternos. Claro que o povo ri, esquecendo-se que foi ele, esse povo galhofeiro, quem os pôs lá. Democraticamente. Esquecendo-se que a legitimidade democrática não é o mesmo que competência. E que a competência não se compra nas farmácias e também não se adquire por eleição. E dá trabalho. Muito trabalho. Dá sempre mau resultado quando se promove o moço de recados a capataz, pois quase sempre passa a sentir-se o arquiteto do projeto. Depois, quando toma conta das rédeas do poder, é difícil conseguir devolvê-lo ao redil, pois começa a dar couces como uma mula desembestada. Já os mais afoitos dão sempre a impressão de saberem tudo, coisa que é praticamente impossível, porque revelam faro político e inteligência estratégica. Cheiram o poder, pois para isso foram treinados. Claro está que o magnetismo do poder cria sempre uma espécie de unidade aparente. O segundo sonha em ser o primeiro e o terceiro o segundo, etc. É então quando o caldo se começa a entornar, pois chegam sempre os ciúmes, as rivalidades, as discrepâncias políticas e, sobretudo, pessoais. Os partidos políticos são sempre capoeiras com vários ninhos. Há sempre ambições insatisfeitas. Por trás de cada líder de grupo existe sempre um séquito de aduladores incompetentes e descoordenados. Os subordinados que colam cartazes, que agitam bandeiras e que pagam as quotas também esperam que alguma coisa do exercício do poder chegue até eles e não interessa que seja em géneros: medalhas, prebendas ou cargos mais ou menos honoríficos pagos como despesas de representação ou senhas de presença. Com o avançar do tempo, iniciam-se as discussões e começam a surgir as divergências. Mesmo sabendo que o respeitinho é muito bonito, ele, o poder, começa a dar de si. E quando se perde o respeito a alguém é irrecuperável. O fogo da rebelião começa então a tomar conta do palheiro. A intuição de alguns dos mais avisados de que a equipa era uma manta de retalhos mal engendrada era até correta, mas foi extemporânea. A razão antes de tempo é a pior das verdades. E depois surgem sempre os críticos tardios, os que intrigaram laboriosamente contra o número um. E a balbúrdia instala-se. E depois cresce. Até ao golpe final. Parece que a realidade anda sempre a conspirar contra os políticos. Coitados. Pobres coitados. Quando a forma é o conteúdo, o conteúdo deixa de ter sentido.

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