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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

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21
Ago23

648 - Pérolas e Diamantes: De beber eu não posso deixar...

João Madureira

 

 

Apresentação3-2 - cópia 7 (4).jpg 

Por aqui reinam as virtudes, sobretudo as virtudes cristãs, e em eco: a bondade, a bondade, a bondade… a humanidade, a humanidade, a humanidade… a piedade, a piedade, a piedade… em duplo eco… a piedade, a piedade, a piedade… o respeito humano, o respeito humano, o respeito humano… a moderação, a moderação, a moderação… a modéstia, a modéstia, a modéstia… a decência, a decência, a decência… a prudência, a prudência, a prudência… a sensatez, a sensatez, a sensatez… Sim, temos a virtude dos que fracassaram, a virtude da pobreza e a moral dos embuçados. A moral, para nós, é como o fogo de artifício em festa de aldeia. Soa estrondosa. E atinge-nos como uma bofetada na face esquerda, depois de termos oferecido a direita. A verdade é que o cavalo da nação, apelidado de lusitano, afinal é o resultado do cruzamento entre um burro mirandês e uma égua árabe, ou vice-versa, o que vem a dar no mesmo. Por isso, temos de celebrar a mútua consolação dos ânimos, a celebração das danças e das cantigas regionais e as palestras académicas para compor currículos. Antigamente, os burros davam coices, zurravam e espojavam-se no chão. Agora, disfarçados de garranos, passeiam-se pelos montes, ao deus-dará. Ou são desviados para fazerem parte de alguns capítulos de teses de mestrado ou de doutoramento sem préstimo nenhum. Mas, peço perdão, por estar a desviar-me do meu discurso, a cristandade, ou o que  dela resta, é progressista, mesmo sendo conservadora. Nós, os portugueses, somos gente de rituais ancestrais. Não vá o sapateiro além da chinela. Ninguém espera que das cerimónias religiosas surjam surpresas. As obrigações patrióticas e piedosas dão-nos satisfação. Calma. Vamos respirar de novo. Eco. Eco. Eco. Ioga. Posição de lótus. Respirar fundo. A genialidade lusitana existe. Será que existe mesmo? Diabos levem estes génios. Somos os parentes pobres deste mundo. Mas, talvez por isso, não abdicamos de tentar impressionar os nossos e até os outros. Nós declamamos a humildade e a ânsia, a integridade e a sinceridade. A seguir, pegamos na concertina e vamos cantar ao desafio. Por isso, a pátria é amaneirada. Inibe-nos. Mas nem por isso nos falta o desejo de a ajudar e de a elevar aos píncaros. A arte é uma frase feita? Pois será. Mas vamos ter de nos habituar a ela. Não é em vão que se constroem centros culturais e museus e anfiteatros para recebermos os artistas estrangeiros. Também não pode ser em vão que se manda a Amália para o panteão. Quatro paredes caiadas… a alegria da pobreza… um São José de azulejo… uma existência singela… e o vinho e o pão e o caldo verde verdinho e a alegria da pobreza da riqueza de dar e ficar contente… Nós somos a tal nação genial… mas desprovida de génios. Nós podemos não ser/ter nada de valor mas não paramos de falar… do Camões e do… e do… e do Cristiano Ronaldo. Claro que o nosso passado até pode ter sido grandioso, mas nunca será mais importante do que o futuro. Não devemos levar muito a sério a metáfora dos nossos egrégios avós. Nós não somos, não podemos ser, herdeiros diretos do passado heroico ou poltrão, nem da sensatez, nem da estupidez, nem da virtude, nem do pecado. Cada um tem de aprender a representar-se a si próprio. Enquanto não for assim, o cerne da nossa identidade nacional continuará a ser aquilo que sempre foi: a bajulação. Nós não podemos continuar a ser escravos dos cálculos medrosos. A grandeza do nosso passado é treta… De beber, de beber, de beber eu não posso deixar, se o vinho é que alegra a gente, eu fico contente por me emborrachar, de beber, de beber… Eco, eco, eco… bondade, humanidade, piedade, senhor da piedade valei-me, de beber, de beber, respeito humano, moderação, olha a brigada lá ao fundo, de beber eu não posso deixar, modéstia, decência, pru… pru… de beber eu não posso deixar… pru… pru… pru… se o vinho é que alegra a gente… pru… pru… prudência e sensatez e… se o vinho é que alegra a gente, eu fico contente por me emborrachar, de beber, de beber… para o carro que vou vomitar. Heróis do mar… de beber eu não posso deixar… nobre povo, nação valente e imortal… levantai hoje de… de beber, de beber… de novo… o esplendor… entre as brumas… de beber…

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