660 - Pérolas e Diamantes: Exageros
Os exageros do liberalismo em certos países já provaram que não são medidas inteligentes pois tendem a criar um movimento inverso. E existem mesmo discursos contraditórios. Por exemplo, a nossa sociedade chegou a um ponto em que tentamos que nenhuma mulher seja prejudicada pelo seu sexo. Mas, paradoxalmente, também as apresentamos como extremamente vulneráveis. E isto provoca inquietação e desnorte. Muitas jovens que crescem em sociedades ditas liberais, em vez de ouvirem dizer que poderão ser aquilo que quiserem, escutam o conselho de que devem ter cuidado com o lobo-mau, para estarem vigilantes no meio da floresta, porque a floresta é o mundo dos homens. Provavelmente não é a melhor maneira de criar raparigas livres e saudáveis. Existe uma extensa literatura de marxistas e pós-marxistas que é frontalmente explícita sobre o que está a acontecer. Os seus defensores, organizados em estruturas partidárias, afirmam que a classe operária não compareceu, ou desertou, da revolução, daí a necessidade de descobrir e integrar grupos minoritários de novo tipo para as pessoas se agregarem à sua volta. Nomeadamente, grupos sexuais minoritários, mulheres e grupos raciais também minoritários. Isso tornou-se demasiado explícito na luta política atual. Estes “revolucionários” de novo tipo acreditam que conseguirão formar uma ampla coligação de grupos diferentes – gays, mulheres e minorias raciais – e a partir desse núcleo organizarem a sociedade, ou, pelo menos, uma espécie de rebelião permanente, de modelo trotskista. Este tipo de “movimento revolucionário” começou nas universidades, onde alguma gente tem muito tempo livre. Então criaram uma coisa que é uma espécie de disciplina “não-disciplina”. A verdade é que não se trata de um qualquer derivado da ciência, mas de uma coisa que eles apelidaram de “ciências sociais”, em relação às quais a verdadeira ciência é profundamente cética. Este tipo de ciências não são rigorosas, nem demonstráveis. São literatura. Por isso é possível até construir uma carreira, fazendo asserções que nunca é necessário provar. E, o que é ainda melhor, também não podem ser desmentidas. Os liberais, bem vistas as coisas, andam a arranjar lenha para se queimarem. Quanto mais as pessoas sentirem que não podem dizer o que pensam mais provável é votarem em alguém que diz disparates. Quando alguém fala para uma plateia de gente sem emprego ou a passar fome e apenas se foca nos direitos dos trans, dos negros ou das trabalhadoras do sexo, o mais provável é que os votos na extrema-direita cresçam de forma exponencial. Houve um tempo em que ser gay era ilegal. Atualmente, não só é ótimo como é visto como a melhor condição social. Isso é ridículo. Eu sou pela igualdade, mas isso não o é, com toda a certeza. Pode parecer provocador, mas todos sabemos que as mulheres estão sempre mais próximas do feminismo quando são novas. Com o passar do tempo, essa ideia “revolucionária” começa a esmorecer. Também os gays, quando envelhecem, vão deixando de se entusiasmar com os desfiles do “seu” orgulho. Todos acabam (acabamos) por concluir que são como toda a gente. Nas campanhas eleitorais é frequente ouvir eleitores afirmarem que gostam de um determinado candidato, ou candidata, porque defende as mulheres, os gays, os negros ou outra coisa qualquer do género. Deixando secundarizadas as questões da competência. Por isso é que, cada vez mais, a política é o reino da incompetência e dos incompetentes, do fogo fátuo. Votar numa pessoa porque é mulher, gay, ou negra, é um argumento perto do vazio. Levando este tipo de argumentação a sério, qualquer dia o candidato perfeito do liberalismo, para combater o trumpismo, o bolsonarismo e o venturismo, apenas pode ser, ao mesmo tempo, mulher, gay e negro. Provavelmente essa passará a ser a santíssima trindade dos liberais, sobretudo de esquerda.