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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

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22
Set10

O frio humilde do amor

João Madureira

 

Trazes o frio das noites calmas a arder dentro de ti como se sentisses os leves ruídos da assombração e assim te pudesses transformar no silêncio imortal do amor para de seguida me dizeres que todas as coisas mortas seguem irreversivelmente pelo caminho imprevisto da sedução e eu penso que sou o teu amor acordado que aos gritos esmaga sem querer a pessoa amada como se a partir de uma ideia de melancolia se pudesse escrever a palavra melancolia como se essa fosse uma semente inventada pela pureza abstracta da água e como se o espaço pudesse correr ao lado das crianças que escaldam como estrelas espantadas pelo lado encoberto da pureza e eu sou os teus lábios e tu és a minha primavera esplêndida longamente ondulada pelas ideias transformadas em folhas espantadas e eu sou às vezes o meio tempo inteiro dos trevos surpreendidos pela dicotomia e dizes nada e eu digo coisa nenhuma e tu dizes tudo e eu digo totalidade como toda a poesia do herberto helder assim caída na extática claridade da sagrada loucura dos símbolos do kama sutra e lá vem a alma vingativa da fantasia bater nas portas do teu rosto e sim eu sou uma voz que se ouve na violência magnânime dos espelhos e no seu som queimado pelo tempo das histórias infantis porque todas as historias são estórias infantis e por isso abraço a imagem da história secreta da minha avó e da história infantil da sua sexualidade transformada em compromisso e trabalho e obediência e lá vem o amor sonâmbulo e o fogo e a forma intensa do espaço e do tempo e da beleza e da infantil maratona dos sonhos e das estórias planas dos pássaros abstractos que sobrevêm cegos pelos nomes antigos do pecado e por isso lá no altar mais elevado da fé a voz vingativa dos deuses profere fantasias neo-realistas e os profetas da vingança proclamam agora a ditadura dos bons costumes como se fossem burgueses proletários e chefes plebeus ou pedófilos científicos e eu olho e sinto que o vermelho dos telhados da vida fende cada vez mais o azul proscrito do firmamento que é infinitamente fechado e eu sei ainda o significado abstracto do nome mulher e da morte clara e faminta pelas bocas e pelos sexos obesos dos amantes universais e se eu te disser humildemente, simplesmente, humanamente, unicamente, que te amo sei que não acreditas mas apesar disso é verdade…

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