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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

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11
Nov24

705 - Pérolas e Diamantes: As forças poderosas

João Madureira

Apresentação3-2 - cópia (3).jpg 

Tanto a inércia como o otimismo são forças poderosas. Daí pensarmos há séculos que tudo no nosso país se vai resolver, só não sabemos quando. Apesar das tendências serem facilmente identificáveis, os resultados não o são. A fé num futuro risonho do país, bem assim como na democracia, está em estilhaços. Não é pelo facto de as projeções serem más notícias, que elas deixam de ser reais. Não, para mal dos nossos pecados, esses estudos não são fantasias.

Algumas concentrações políticas parecem desfiles de carnaval. Outras, o dia das bruxas. Outras, ainda, chegam a provocar náuseas. Umas atraem grupos de fanáticos zangados. As restantes expõem-se ao ridículo. Sejam contra o orgulho da sua putativa identidade, seja a favor dele. Por vezes, muitos dos participantes desfazem-se em lágrimas como se estivessem a representar o papel principal de um filme comercial. Uns são rufias, outros são grupos de desenraizados que apenas dão largas à sua insatisfação.

A violência da retórica tem vindo a aumentar. O problema é que muitas vezes esta costuma anteceder o surgimento da outra. E se repararmos em vários períodos da nossa história, fácil é concluir que isso de Portugal ser um país de brandos costumes é uma ideia falsa. Um mito urbano baseado na falta de informação, na desinformação, ou simplesmente na ignorância.

As fontes de desinformação tanto alimentam quem tem o poder real como aqueles que a ele aspiram. A verdade é, para eles, um eufemismo. Na era do Facebook, as visões fantasiosas contaminam a política real. Tanto os mentirosos de um lado, como os do outro, utilizam a desinformação a seu bel-prazer, para poderem progredir e impor-se no espaço mediático.

Muita desta gente tudo faz para desencadear o ódio e a cólera, tudo investe para espalhar o sentimento de que estamos sob uma ameaça de contornos indefinidos, no sentido de reforçar a crença na fantasia de que existe um tipo de violência purificadora. Mas é a mais estúpida das ilusões. A violência não purifica, destrói. A raiva provoca mais raiva, a cólera mais cólera e o ódio mais ódio.

E o espetáculo mais espetáculo.

O espetáculo é o motor das sociedades ditas modernas e democráticas.

A direita concorda. A esquerda discorda. E o centro nem concorda nem discorda. Antes pelo contrário. A caricatura transformou-se em lenda e a lenda em caricatura. Todos se dizem humildes. Essa é uma nova forma de arrogância.

Os novos patriotas afirmam-se antigovernamentais. Dizem odiar o governo, mas amar o país. Já os partidários do governo dizem odiar esses neopatriotas, por amor ao país, que, parecendo ser o mesmo a nível teórico, é um país diferente.

Convenhamos que, para democratas, os democratas são um pouco coxos de argumentação.

Por isso é que os vigilantes de fronteiras, de costumes, da identidade sexual, da cor da pele, da orientação religiosa, proliferam por aí como níscarros depois das chuvadas.

Tentar entender a ideologia destes “vigilantes” é como tentar adivinhar a progressão da fissura provocada pelo embate da gravilha num para-brisas. Podem ser ideologicamente incoerentes, até no ódio aos impostos, mas são ferozmente determinados. É a incoerência ideológica o que os torna atraentes.

Será que os “vigilantes” também se vigiam a eles próprios?

Ser ou não ser… pois.

De um lado o vermelho e as foices e martelos e punhos erguidos e outras armas simbólicas da revolução proletária e solidária e cada vez mais solitária.

Do outro o preto, as suásticas, as runas, os sóis negros, as cruzes de ferro, as caveiras.

Uns a gritarem o seu ódio à burguesia e ao capital.

E os outros a bradarem o seu ódio aos judeus, aos pretos e aos ciganos.

Uns de rastas, cabelos compridos, barbas, calças e saias cheias de buracos.

Os outros de cabeça rapada, bem escanhoados, vestidos de cabedal preto por cima da camisola de manga curta para poderem mostrar a musculatura eugénica.

Ambos os lados trouxeram câmaras digitais para filmarem o desempenho de cada grupo. E vigiarem-se mutuamente.

O combate já não é por terras e pontes, mas por uma narrativa.

A batalha vai ter lugar, logo após as manifestações, na internet, televisão e órgãos sociais.

Geram depois memes que se tornam virais, repletos de meias verdades e outras mentiras adjacentes.

Os insultos são mútuos. “Como é maravilhosa a liberdade de expressão!”, pensamos nós enquanto os vemos desfilar nas ruas aos gritos.

Estas extraordinárias explosões de liberdade provocam-nos cada vez mais dores de cabeça. 

Já se vendem por aí cursos sobre a arte de bater em retirada em caso de colapso civilizacional.

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