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09
Dez24

709 - Pérolas e Diamantes: O rock’n’roll

João Madureira

 

Apresentação3-2 - cópia 3 (9).jpg 

Nasci em 1958, precisamente no ano em que o rock’n’roll começou a tomar conta do mundo. Os adolescentes ouviam aquela “música maluca” que as notícias definiam como uma música de dança para adolescentes, que provocava vários graus de ansiedade nos adultos e tinha a reprovação oficial. Todos pensavam que era uma moda passageira. Os setores mais reacionários gostavam de associar o rock’n’roll ao comportamento antissocial e à delinquência juvenil. A verdade é que a tal “música maluca” sobreviveu ao normal período de validade de uma moda passageira e até se transformou num dos vencedores culturais da era do pós-guerra. De onde surgiu ele?, perguntarão vossas excelências. Na verdade, ao que se sabe, o rock’n’roll surgiu de forma espontânea e imprevista, resultando de uma série de evoluções na indústria da música dos EUA, cujo efeito cumulativo permitiu a abertura de um espaço para a música direcionada aos adolescentes. O rock’n’roll, salvo melhor interpretação, veio a ser definido como rhythm and blues (música interpretada por artistas negros para ouvintes negros) redirecionado sobretudo por artistas brancos para um público maioritariamente branco. O que veio a desencadear o desenvolvimento do rock’n’roll foi a perceção do mercado discográfico de que nem todos os jovens que compravam discos de rhythm and blues, ou ouviam canções deste tipo de música, eram negros. Ou seja, o R&B era uma música descoberta por pessoas brancas. Eis a história paradigmática: Um disco-jóquei, de seu nome Alan Freed, foi a uma loja de discos em Cleveland e dizem que ficou espantado ao ver adolescentes brancos a comprarem avidamente discos R&B. Logo a seguir, abandonou o registo de passar música de “qualidade” no seu programa, criando um novo dedicado ao rhythm and blues, adotando um discurso radiofónico frenético, sendo uma das primeiras pessoas a promover o termo rock’n’roll. Só que esta história é uma criação à posteriori. Ou seja, o episódio da loja de discos é uma reconstrução. Freed foi levado à loja pelo seu proprietário, Leo Mintz, que o incentivou a lançar um programa de rádio na esperança de reforçar o negócio do seu estabelecimento. Ou seja, os adolescentes que ouviam a rádio e compravam discos eram essencialmente negros e foi o dinheiro destes adolescentes que tornou o R&B popular dando assim origem ao aparecimento do denominado rock’n’roll. Com a popularidade granjeada, Freed foi contratado por uma rádio sediada em Nova Iorque e o seu programa de rock’n’roll passou a ser ouvido por toda a região nordeste dos EUA. Corria o ano de 1954. Um ano mais tarde, Elvis Presley conseguiu o seu primeiro êxito de âmbito nacional: “Baby Let’s Play House”. A revista Billboard anunciou que “mil novecentos e cinquenta e cinco foi o ano em que o rhythm and blues invadiu o domínio do pop”. Mas foi dois anos mais tarde que esta “música maluca” teve uma exposição adicional, através do programa televisivo American Bandstand, que incluía atuações pop com grupos de adolescentes a dançar, e que era transmitido por todo o país. Passado apenas outro par de anos, já esse programa tinha uma audiência semanal de vinte milhões de telespectadores. Nos finais de 1958, mais de metade das canções nas tabelas de R&B eram de artistas brancos e 70 por cento das listas pop e R&B eram idênticas. O rock era o novo pop. Aconteceu ao rock’n’roll o mesmo que tinha acontecido ao jazz e ao swing antes da guerra. Ou seja, um estilo de música identificado com músicos negros e desfrutado por um público racialmente diversificado, foi assumido e acabou dominado por produtores e intérpretes brancos. No entanto, desta vez havia uma grande diferença entre o rock’n’roll e os estilos mais antigos, a faixa etária a que apelavam era distinta. O sucesso R&B, segundo os críticos, devia-se ao facto da sua batida ser sincopada. Era uma música que se podia dançar. O rock tomou conta do espaço social deixado vago pelo swing e povoado por uma população mais nova. O disco-jóquei Alan Freed, o produtor Sam Philips e o apresentador de televisão Dick Clark foram as três figuras centrais, e fundamentais, na produção, na interpretação e na disseminação do rock’n’roll, ajudando-o a passar de um bem de nicho para um produto de mercado massificado, estando diretamente envolvidos no processo que lhe conferiu um som, uma aparência e um nível de energia elevado.

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