O Poema Infinito (20): a beleza triste dos crisântemos tardios
Encontro em ti aquele repouso frio das manhãs que tanto tonificam a ironia e a alma quente da inutilidade. Por ti eu amo o intenso desânimo do conhecimento. E o mundo tem outra luz, uma luz fria que transforma a água salgada em gelo. Sinto-me uma ilha delimitada pelo longo silêncio das espadas velhas dos guerreiros, como se eles movessem os seus membros insolentes avisados pelo horror da morte. Batem os ossos e as veias nos gritos dos inimigos. Vagarosamente, a noite fulmina a poesia. Tu entoas uma velha canção de escravos: Conheço o nascer da Lua, conheço o nascer das estrelas, agora eu só quero descansar. Eu canto ao teu ouvido uma versão aproximada: Caminho ao luar, ando debaixo das estrelas, agora eu só quero descansar. Daquilo que o espírito acende a força da tristeza silencia. Tu chamas-me agora um nome lindo e demorado. Por isso quando penso em ti sinto que posso enlouquecer eternamente. Esqueço os nossos nomes e os rostos e tomo nos meus braços indecisos o grito misterioso das palavras. Sinto o meu sexo a afogar-se no teu. Sinto os espinhos da coroa de Cristo tornarem-se infinitos. Sinto a distância de Deus multiplicada pelos espelhos. E lá está a criança que se afoga na indiferença das carícias. Todo o corpo é uma prisão. Todas as portas dos sentidos são impenetráveis. Todas as alegorias deixam as bocas húmidas. Toda a distância une. Toda a violência arde. Toda a seiva descobre a qualquer momento as folhas coloridas de morte. Toda a morte é sal na face dos homens. O teu vasto e amargo amor descobre as sombras agitadas da memória. Eu levanto o meu sexo túrgido até ao desenho penetrável do teu. Lembro-me então da beleza triste dos crisântemos tardios. E choro.