O Poema Infinito (28): a luz repousa…
A luz repousa no sossego jubiloso da água e o silêncio das palavras esquecidas ergue-se à altura da transparência íntima. Somente o pastor que reza as insónias da paz infinita dos ermos penetra na condição viva do desespero. O deus profano das brisas sopra presépios incandescentes e o seu pungente cântico de amor eleva-se imperiosamente sobre o hábito intemporal do parto doloroso da virgem mãe do menino. Os símbolos instrumentalizam a sabedoria. O hábito estuda o improviso da entrega. Todo o corpo é vida e morte. Por isso dentro de ti me ilumino com o rigor do sossego. Come-me, eu sou a minha carne e o teu desejo. Tu és o meu vinho especial. Tu és o meu vínculo à nostalgia da infância, à presença escrita dos frutos lúcidos. Especificas agora a iluminação eterna do vagar, do sossego coetâneo da entrega. A terra antiga sofre a paciência triste do trabalho. Os anos sossegam o profundo silêncio da velhice. Todo o corpo organiza o abstracto. O azul dos verbos íntimos percorre a paciência imprevista da palavra amor que está agora nua na nossa boca. Por isso a imagem do dia soletra a insubmissa palavra eternidade. O tempo implode nas imagens evidentes da dúvida. Sou agora o sinal interior da ausência.