745 - Pérolas e Diamantes: Os profissionais da manipulação
Mesmo o estado democrático quer controlar o que é noticiado, sobretudo na televisão. O estranho é que mais do que querer controlar a realidade, pretenda controlar a virtualidade. Insistem sempre no jogo duplo. Para alguma coisa servem os assessores, que são, quase todos, criadores de notícias falsas. A pedido dos patrões, desinformam através da manipulação da informação, mexendo os fios dos bonifrates, como se estivessem num teatro de fantoches. Compram as notícias em troca de favores. Afastam as vozes incómodas. Distribuem tachos e prebendas, títulos e cargos públicos. Os seus representantes dizem-se democratas isentos, mas não passam de manipuladores (profissionais do comentariado/comissariado). E eu conheço tantos! Tantos pavões com cauda de plástico a quem remuneram para papaguearem propaganda política embrulhada em papel celofane de comentário, como aconteceu com um tal de Bugalho, que agora passeia a sua brilhante inutilidade no parlamento europeu. Immanuel Kant dizia que cada ser humano tem uma disposição natural para a metafísica. Ou seja, que cada um de nós, mesmo que não estude filosofia, tem um certo entendimento das coisas. Mas a verdade é que estes novos fazedores de opinião (profissionais do comentariado/comissariado) parecem bonecos feitos a partir de uma conceção superior, vestidos de determinada maneira que decoram determinados textos e que depois os despejam em espaços de opinião rigorosamente vigiados, premeditados, editados e difundidos. Esta é a filosofia da coisa: embasbacar os saloios. A ética são as circunstâncias. Pior do que o medo, é a consciência da traição. Não a traição ao partido, mas a traição às ideias que o formaram e enformaram. Aristóteles, dizia, provavelmente na brincadeira, que “muita gente morreu porque queria ser corajosa”. E até ia mais longe, declarava também que os audazes, os intrépidos audazes, também são cobardes, mas em vez de fugirem para trás, fogem para a frente. Por seu lado, Sócrates assegurava, para quem o queria ouvir, que falava sempre das mesmas coisas da mesma maneira, nos seus combates dialéticos contra Cálicles, que falava sempre de maneira diferente sobre coisas diferentes. Os ditos comentadores (profissionais do comentariado/comissariado) não querem saber da realidade. Apenas querem, com a manobra das palavras, criar uma espécie de realidade que se adeque ao seu pensamento. Aos interesses de quem lhes paga. Aos subtis interesses de quem lhes paga. E bem, por sinal. Muitos deles são manipuladores porque gostam de o ser. É assim que se realizam e se tornam úteis. Aos que lhes pagam. Ou seja, juntam o útil ao agradável. Também eles têm a sua própria escala de necessidades. A que se segue uma escala de desejo. E depois surge a escala do prazer. É então que a manipulação acontece, como se fosse um processo natural. E esse pensamento manipulado e manipulador, faz com que do lado de lá do ecrã, o basbaque pasme, fique admirado, se espante, se sinta fascinado por qualquer coisa que o tal comentador (profissional do comentariado/comissariado) ou analista, diga, defenda ou ataque. Quem recebe honrarias, torna-se passivo relativamente a quem as oferece. Ninguém se submete à ideia da neutralização dos excessos. A canonização dessa gente que se diz comentarista provém de uma falácia. Terem um espaço específico é uma forma complexa de catecismo. O comentário livre e isento, pode ser, por vezes, contraditório, mas tem de ser, obrigatoriamente, antagónico com o exercício do poder. Os comentaristas (profissionais do comentariado/comissariado) do regime são gente capaz de nos vender uma feijoada à transmontana como um prato vegetariano, se o porco se alimentar de produtos biológicos. Fazem da realidade um jogo de legos que montam e desmontam a seu belo prazer, para melhor a compreendermos. A verdade é que manipulam sempre os resultados para irem de encontro aos seus desejos, que mais não são do que os desejos de quem lhes paga. Mais do que saber qual é a resposta, o que devemos tentar saber é qual será a pergunta que eles colocam a si próprios. O comentário manipulado é um jogo de espelhos. E de egos. Ou seja, também esta nossa democracia, dita liberal e social-democrata, tem os seus tartufos. Tartufos e cogumelos são bons para os tachos. Com ou sem vitualhas. Bem vistas as coisas, é só virtudes. Mas apenas os mais coloridos são alucinogénios.

