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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

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25
Mai11

O Poema Infinito (49): o eterno segundo

João Madureira

 

Que longínquo estamos do tempo da luz, da ordem iluminada do conhecimento, da alegria lenta das águas, do sofrimento alegre da paz, do espírito livre do tempo disseminado. De outro tempo chega a tua imagem e a tua voz. A luz segue o teu rosto. O enigma da vida recupera os frutos da nossa idade. Sou agora o teu sossego. Todo o pensamento organiza o conflito. Daí se deduz a paciência para viver. Murcham agora as imagens das imagens como se fossem palavras submissas. Vem tudo do rigor da idiotice. Da estúpida rigidez da verdade fixa. Os olhos dos mentirosos enchem-se de palavras fúteis. Sempre ali a pairar como um tormento de piedade. As manhãs nefastas engordam mulheres de salto fino e grossa ambição. Tudo se ilumina na caduca noite da frivolidade. O milagre do pão prodigioso sofre da ideia concreta dos afectos. Os homens estudam vestígios do vento nas arestas das pedras dos castelos. Deus dorme infinitamente. E os humanos escutam o eco da sua ausência. A glória é uma operação intensa que abre a dádiva das trevas. Sinto que a distância aumenta em relação à verdade. E a verdade fecunda cicatrizes de ódio. Uma extensão vagarosa de sentimentos alarga o ímpeto do espírito. A humildade é a sábia surpresa da vida. Tudo assenta na nítida obsessão pelas palavras. Na íntima glória do verbo. No anunciado júbilo pelo adjectivo. Alarga-se o espaço. Aquilo. A razão fica do outro lado. A perfídia rasura a realidade. Esse é o ponto exacto da dor. A dor escrita e rescrita. A dor sagrada dos sagrados. O silêncio vencido dos néscios. A dúvida ilustre dos pensadores. É tão real este ar que respiro que me faz sentir aos tombos dentro da Alice no País das Maravilhas. O mundo já está todo pensado. Os seus horizontes abrem novos conceitos de tempo. Um vento desassossegado espalha todas as palavras de todas as línguas escritas, faladas e pensadas. Um sol inclemente incendeia esse deserto infinito de vida. São agora estas palavras uma região longínqua onde as chuvas caem para regarem os campos acústicos da fecundação. Os deuses consubstanciam o pasmo do tempo. É essa a eternidade do meu segundo.

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