O Poema Infinito (53): o Capitão Gancho e a Sereia de Plástico
Surgiu de repente uma sereia de plástico no meio da viagem pelos mares da arábia. Eu vi. O marinheiro da proa esfacelou a coragem. O mar era estreito e pintado de cores monótonas. A costa, de vez em quando, vestia-se de neblina. Decidido, o Capitão Gancho começou a atravessar a memória da tripulação com pequenas lâminas de coral. Eu vi. Içaram a sereia para o veleiro. De seguida, a sereia de plástico levantou-se, luminescente, e abraçou o timoneiro que desfaleceu de cansaço. Os olhos vibráteis do Capitão Gancho escorregaram no sexo explícito da sereia e os marinheiros esconderam o pénis liso de encontro ao mastro do veleiro. O corpo da sereia encheu-se de pérolas fascinadas. O corpo do Capitão Gancho avolumou-se com os despojos do mar e das anémonas insones. A sereia de plástico amaciou os seus cabelos loiros e abriu os seus lábios húmidos. Um marinheiro desenhado a tinta-da-china sugou-lhe li-te-ral-mente a vagina. Limos de ciúme escorreram dentro do sonho do Capitão Gancho. Todos vigiaram o corpo exposto da sereia que continuava desenhada nos olhos implícitos do Capitão Gancho. De repente, o corpo da sereia sofreu a sequiosa transparência dos peixes luminosos. Nesse momento, o Capitão Gancho abriu o sexo da sereia de plástico e penetrou-a com um prazer vagaroso. Durante a noite, o veleiro navegou demoradamente em redor das ilhas alucinadas. Os marinheiros embriagaram-se com rum e ofereceram flores envenenadas aos amantes. Eu vi. A sereia, pela manhã, fendeu o seu próprio corpo com o gancho do Capitão Gancho. Depois chorou lágrimas verdadeiras sulcadas de solidão e adolescência. E mergulhou para sempre na escuridão incessante do mar.