A culpa e os verdadeiros culpados
A vida tem muitas surpresas. Por exemplo, o Príncipe Carlos de Inglaterra admitiu descender de Vlad, o Empalador, figura romena que inspirou o Conde Drácula. Por seu lado, Thomas Beautie, o transexual que ficou conhecido como o primeiro homem a ficar grávido, após gerar três filhos, afirmou que fechou a fábrica. Com a consciência pesada, Madonna, a cantora pop norte-americana, que é muito conhecida por adotar crianças, desmentiu a sua ligeireza afirmando: “Eu não sou superficial – gosto de flores, cavalos, natureza…”
Depois de discutir com os meus amigos, entre a chalaça e o desespero, temas tão pertinentes como os acima referidos, fui para casa aclarar as ideias. Todas as coisas, tanto faz que sejam boas ou más, nunca permanecerão o tempo suficiente para serem verdadeiramente importantes. Isso é o que nos diz qualquer rio ou montanha. Podemos sujá-los, cortar árvores, que a natureza e o tempo continuarão a curar-se e a sobreviver-nos. Por vezes esquecemo-nos disso e começamos a levar a sério a fealdade humana. Mas mesmo a barbárie foi temporária, à semelhança de tudo o resto.
Depois pensei no pecado, em Deus e no Demónio. Quando era rapaz gostava de me lembrar de Jesus e do seu exemplo. Agora penso ser essa a menor das minhas preocupações. É que se houver céu, estará quase deserto. E se existir inferno estará a abarrotar. Por isso muitos dos “chamados” vão ter de esperar vaga de pé. Os hipócritas estarão na fila da frente e, com toda a certeza, haverá uma fila especial para papas e boa parte do clero. E ainda uma segunda, simétrica, e terrivelmente competitiva, constituída por políticos e economistas.
Já José Rodrigues dos Santos, que é jornalista, apresentador de televisão e escritor de romances de sucesso, é vinho de outro cálice, ou hóstia doutro prato, pois evocou Jesus e logo pensou nele para tema do seu último livro “O Último Segredo”. Mas a originalidade não ficou por aí. Numa entrevista respondeu desta forma magnífica à pergunta sobre a sua originalidade: “Eh pá, e se Jesus voltasse à Terra? Era capaz de dar uma boa história para um romance.”
O problema, por vezes, está quando se conduz. Pedro Santana Lopes escreveu no “Sol” que “falar, escrever ou ler em andamento é perigosíssimo e coloca em risco a vida de outros”.
A presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, ainda sem tempo para ouvir os avisos do seu colega de partido, viu-se envolvida num choque de viação em cadeia que resultou no atropelamento de uma idosa numa passadeira, em Faro. A notícia foi avançada no “Correio da Manhã”, que citou fonte da PSP. O jornal informou que a titular do segundo mais alto cargo da nação não conseguiu travar a tempo o carro onde seguia sozinha "e embateu numa viatura, que tinha travado para uma idosa atravessar a passadeira". O automóvel embateu no carro à sua frente "e este atingiu a mulher, que ficou ferida com gravidade e foi transportada para o Hospital de Faro", escreve o “Correio da Manhã”.
Nem Assunção Esteves, para nosso descanso e para o descanso da nossa república democrática, nem qualquer um dos outros condutores sofreram qualquer ferimento, adiantou o jornal diário. O que o diário sensacionalista não avançou foi se Assunção Esteves vinha a falar, a escrever ou a ler em andamento. Se calhar vinha a pensar alto sobre a sua recente reforma. Pois, esta personagem importante do partido que deu origem ao governo angélico e procrastinador que nos quer resgatar do inferno e enviar-nos a modinho para o céu, reformou-se aos 42 anos, com 2.445€/mês, após 10 anos de trabalho.
Em entrevista à “Caras”, pois quem vê caras não vê corações, a elegante e loira presidente do parlamento lembrou-se dos bons velhos tempos: “Tive um fato Giorgio Armani, que comprei em Bolonha e que usei até rasgar as bainhas”. Estamos em crer que agora, reformada e no ativo, já não vai recorrer à costureira para lhe subir as bainhas do seu GA. A almofada económica da sua pequena reforma serve à justa para se vestir na sua loja preferida.
Mas enquanto a loira senhora presidente do parlamento, esse templo da democracia, vai amealhando para a roupinha, os portugueses, vítimas da enorme recessão, gastam mais com cães do que com bebés. Pudera, o que por aí há mais são cães, agora bebés não, custam muito a parir, a alimentar, a vestir e a educar. Os cães saem mais em conta e dão muito menos trabalho.
Já o presidente do PSD, e nosso primeiro-ministro, funileiro a tempo inteiro, depois de depenar os funcionários públicos e os pensionistas, avança de tesoura em riste e propõe mais cortes na saúde, na educação e na segurança social. Um jornalista manhoso do “Expresso”, provavelmente um socialista pago pelo engenheiro Sócrates e, talvez, casado com uma funcionária pública, perguntou-lhe se, perante as mentiras por si proclamadas durante a campanha eleitoral de que não ia mexer nos salários, nem aumentar os impostos, não devia pedir perdão a alguém. O nosso PM foi peremtório: “Não sinto que tenha de pedir desculpa aos portugueses.”
Na nossa modesta opinião, penso que o senhor PM sente que quem tem de pedir desculpa são os portugueses ao PM por existirem. Fontes bem informadas garantiram ao “Expresso” que algum ministro terá lembrado, e bem, estamos em crer, que “a função pública não é a base eleitoral deste governo”. Portanto, os crápulas que paguem a crise.
Ele há coisas do diabo: todos os indicadores económicos da conjuntura não fizeram senão agravar-se depois da tomada de posse do novo governo da nação – todos sem excepção. E sabem quem é o culpado? José Sócrates. Daí este executivo não fazer mais nada a não ser cortar nos ordenados e aumentar impostos diretos, indiretos e diferidos.
O senhor PM, também conhecido por PPC, diz que, além de não ter de pedir desculpa aos portugueses, pretende atingir em 2012 um défice de 4,5%. No entanto, a Irlanda, que está a regressar ao crescimento, vai ter, no mesmo período de tempo, um défice de 8,6%.
É bom lembrar que o líder do PSD chumbou o PEC 4 porque, afirmava, a austeridade aí proposta era excessiva. Agora, por obra e graça desse doutor do embuste político, passámos para uma austeridade necessária, que os funcionários públicos e os pensionistas vão pagar com língua de palmo. Para quem chamava mentiroso a José Sócrates, é irónico, senão trágico. E quanto à verdade por si propalada, estamos falados.
Até apostámos que daqui a um ano a economia e as finanças estarão de rastos e que os verdadeiros culpados serão o engenheiro Sócrates, a crise internacional… e os funcionários públicos e os pensionistas. Que daqui a dois anos as finanças e a economia estarão de rastos, e que os verdadeiros culpados serão novamente o engenheiro Sócrates, a crise internacional… e os funcionários públicos e os pensionistas. Que daqui a três anos a economia e as finanças estarão de rastos e os verdadeiros culpados continuarão a ser o engenheiro Sócrates, a crise internacional… e os funcionários públicos e os pensionistas. Que daqui a quatro anos as finanças e a economia continuarão de rastos e que os verdadeiros culpados serão o engenheiro Sócrates, a crise internacional… e os funcionários públicos e os pensionistas.
Enquanto o PSD estiver no governo a culpa será sempre do engenheiro Sócrates, da crise internacional… e dos funcionários públicos e dos pensionistas. E também de todo o povo português, claro está (e da crise internacional e dos funcionários públicos e dos pensionistas), a quem o PM não sente, nem nunca sentirá, necessidade de pedir desculpa.
A quem o PM sente necessidade de pedir desculpa é à crise internacional, que apenas atacou a nossa economia no primeiro dia em que este governo de anjos, santos e ministros franciscanos tomou posse.