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28
Mai12

Da expetativa ao imobilismo (XVII): António, o desistente

João Madureira

 

Quando alguém me comentou a forma como António Cabeleira agiu, e reagiu, na recente reestruturação dos serviços da nossa autarquia veio-me logo à ideia uma frase do brilhante livro de Caudio Magris, Às Cegas, que aqui deixo aos estimados leitores para reflexão: “Quem dá ordens ilude-se e pensa que comanda.”

 

É verdade que o vereador António quando dá ordens pensa que comanda, mas isso é apenas aparência. Tal e qual como quando fala aos jornais para nada dizer, ou então para confirmar que está num processo acelerado de abandono das principais promessas eleitorais que fez para estes últimos quatro anos de gestão autárquica laranja. João Batista faz de cego e mudo e o seu vice desempenha o papel de surdo. A peça encenada sugere muita, mas mesmo muita, confusão.

 

Pois é, António Cabeleira foi recentemente enxertado no pelouro do desporto da autarquia flaviense. E fê-lo porquê? Está claro que não foi por causa da sua competência técnica e política em relação ao desporto. Nem sequer pelo seu amor ou dedicação ao desporto. E muito menos porque se sinta inclinado a abraçar esta pasta numa putativa vitória (o diabo seja cego, surdo e mudo, pois para atraso de vida já nos chegam, e sobram, os dez anos em que ele e João Batista, ou o João Batista e ele, geriram de forma infeliz e irrefletida os destinos da nossa cidade e do nosso concelho) para presidente da Câmara de Chaves.

 

A razão não é técnica nem de mera gestão administrativa, como ele tenta fazer querer durante a entrevista que concedeu a um jornal local. Não, a lógica é estritamente partidária. Pois este era um dos pelouros atribuídos ao seu rival Carlos Penas.

 

Desde que venceu as eleições internas do PSD, António Cabeleira não tem feito outra coisa que não seja afastar os seus rivais dos lugares dirigentes no partido e dos locais de direção efetiva na Câmara. E o homem não descansou enquanto não arredou para os lugares cinzentos e destituídos de poder efetivo, o seu grande rival.

 

E aqui para nós que ninguém nos ouve, a verdade é que João Batista tinha dado como adquirida a candidatura de Carlos Penas quando viu que António Cabeleira se tinha decidido pelo lugar de deputado por Vila Real. Mas o seu vice não se deu bem com os ares de Lisboa, pois lá não mandava em nada nem em ninguém. Ninguém o ouvia, ninguém lhe prestava atenção, ninguém lhe ligava nenhuma. No seu grupo parlamentar era o último da cadeia hierárquica.

 

Vendo-se triste e desamparado, pegou nas malinhas e retornou ao seu lugar de origem. E, a partir daí, tudo fez para derrotar o seu rival Carlos Penas. Tudo fez, e convenhamos, conseguiu. Até porque João Batista, qual Pilatos, deixou cair o seu delfim e a seguir lavou as mãos, desinteressando-se definitivamente pela qualidade, ou falta dela, da sua sucessão.

 

António Cabeleira, quando confrontado com a questão acerca da sua investidura como responsável pelo desporto, argumentou de forma técnica, com palavras pouco adequadas, acabando por admitir o pior. E passamos a citar: “Não houve qualquer análise de valia na área do desporto, pelo antigo vereador Carlos Penas, antes pelo contrário, pois é uma pessoa bem mais informada do que eu e com grande mérito no trabalho realizado.”

 

Mas como é “uma pessoa bem mais informada” do que António Cabeleira e “com grande mérito no trabalho realizado”, dá-se-lhe um pontapé no traseiro e põe-se a andar porque o vice de João Batista, que é bem menos informado e sem méritos reconhecidos nesta área, resolveu abocanhá-la com ciúmes do crescente protagonismo do seu rival.

 

Mas o que mais nos incomodou na entrevista do senhor vice, além de uma grande carga de hipocrisia política, foi a sua confissão de desistência relativamente a todos os projetos estruturantes que a Câmara tinha agendado relativamente a estruturas desportivas.

 

O homem congelou tudo. Desistiu do Pavilhão Multiusos, abandonou da ideia de um parque desportivo e abdicou da ideia da implementação dos sintéticos.

 

Ou seja, por causa de terem gasto o dinheiro que ainda possuíam em obras de mais que duvidosa qualidade, oportunidade ou necessidade, como o sejam os dois jardins destruídos, o parque industrial novo e abandonado, as vias intervencionadas e cestas e bancos espalhados a esmo nas ruas da cidade para atrapalharem ainda mais a mobilidade dos flavienses e dessa forma recompensar gentilezas e fazer de nós parvos, agora vêm para os jornais comunicar que desistem de tudo, ou quase tudo, relativamente a infra-estruturas desportivas que tanta falta fazem a Chaves. Isto para não falar no buraco que substitui o prometido parque de estacionamento no quarteirão do Faustino e a eterna promessa, sempre adiada, de reabilitação do antigo Cine-Teatro no centro da cidade.

 

A verdade salta à vista, a Câmara de Chaves está como o país, em pré-falência.

 

Quando o jornalista lhe colocou a questão sobre os desafios que assume enquanto gestor da pasta, António Cabeleira, respondeu de uma forma inenarrável: Se não “diminuir a atividade já é bom”. Ou seja, vai diminuir a atividade desportiva e satisfaz-se com isso. Promete-nos um regresso ao passado e quer que todos concordemos com a sua desistência.

 

A verdade salta à vista, com o António Cabeleira à frente dos destinos da Câmara de Chaves espera-nos a estagnação, o abandono e a desistência.

 

Em tempo de vacas gordas gastaram dinheiro à tripa forra em obras sem vulto, deixando as estruturantes para o período pré-eleitoral. Mas a porca sai-lhes mal capada. Por isso agora só lhes resta desistir. Então e a esperança? Então e o futuro?

 

Se um putativo candidato a presidente (o diabo seja cego, surdo e mudo, pois para atraso de vida já nos chegam, e sobram, os dez anos em que ele e João Batista, ou o João Batista e ele, geriram de forma desastrosa e leviana os destinos da nossa cidade e do nosso concelho) da nossa autarquia diz ainda antes das eleições que só nos resta o caminho da abdicação e da desistência, o melhor que tem a fazer é ir para casa calçar o chinelos, pôr-se a ler o jornal, aquecer-se à lareira, pois já não serve para mais nada.

 

Se quer ser eleito para desistir depois, então o melhor que tem a fazer é desistir já e deixar o caminho livre a quem tem projetos para o futuro, a quem não desiste de lutar por um futuro melhor para os flavienses.

 

 A verdade salta à vista, António Cabeleira não aprecia a nossa terra nem defende as nossas gentes. Não ama a nossa cidade, por isso não consegue projetá-la para ter futuro. Quando as coisas se complicam, o homem desiste.

 

A pensar em alguma coisa, o vereador António apenas pensa no seu partido e na manutenção do poder para satisfazer clientelas e promover amigos.

 

Sobre os projetos, diz que deixou cair o Pavilhão Multiusos porque apenas dará prejuízo. Afirma que é um sorvedor de dinheiro. Mas desde quando é que uma estrutura desportiva pública é feita para dar lucro?

 

Por essa lógica, estamos em crer que o senhor vereador e os seus colegas, e restantes prosélitos, porque dão um grande prejuízo à autarquia, também devem ser dispensados de funções, antes que arruínem de vez a Câmara.

 

Sobre vários projectos de parques desportivos afirmou que comprou os terrenos mas que devido à conjuntura económica os planos ficaram adiados. Desistiu também de vários campos de ténis, desistiu das piscinas municipais, dos relvados sintéticos. Desistiu de tudo. Só ainda não desistiu de querer manter-se à frente da Câmara. Mas essa era a sua melhor saída. 

 

A construir, diz que apenas se vê a fazer campos pelados. É caso para dizer que, nesse caso, o melhor será ele e os seus irem para lá jogar para verem como elas doem.

 

“Neste período de crise que estamos a viver pretendemos que o número de clubes mantenha a sua atividade.” Ó senhor vice, ser vereador para prometer desistência, abandono e conformismo, o melhor é agarrar na pasta e ir para casa e informar alguns dos seus apaniguados que rumem aos seus postos de trabalho originais e deixem a política para quem sabe, deixem a cidade para quem a ama e deixem o desporto aos desportistas.

 

Nunca se esqueça que a crise que estamos a viver se deve a políticos idênticos, que gastaram aquilo que tinham e que não tinham e agora quem vai pagar as favas são os portugueses, neste caso concreto os flavienses, que nesse processo não foram tidos nem achados.

 

Pois é, o senhor vice tem o direito de desistir, tem mesmo o direito de vir para os jornais afirmar que tomou conta dos destinos de uma pasta camarária para desistir. Só não tem é o direito de nos querer convencer que todos temos de desistir porque o nosso estimado amigo desiste. 

 

Desista se quiser, como o fez enquanto deputado traindo a confiança que os flavienses, que em si votaram, depuseram no momento da sua eleição. Desista, porque é isso que sabe fazer enquanto político. Desista, mas deixe que aos flavienses continuem a ter uma réstia de esperança e por isso acreditem que os políticos não são todos iguais e que o nosso caminho é rumo ao futuro.

 

Pois é senhor vereador António, a nossa diferença está em que o meu amigo tem saudades do passado e por isso desiste. Nós, pelo contrário, não desistimos porque somos homens e mulheres de fé. De fé no futuro. Nós, ao contrário de si, temos é cada vez mais saudades do futuro, de um futuro liberto de políticos desistentes, dos quais o senhor vereador é um dos mais paradigmáticos representantes.

 

PS 1 – Lembram-se de eu dizer aqui que o vereador António Cabeleira tinha usurpado o lugar a Carlos Penas por causa do protagonismo. Se calhar alguns dos estimados leitores pensaram que era exagero. Manias minhas. Pois a prova provada, como diz o nosso povo, veio estampada na primeira página dos jornais, designadamente na apresentação dos “Chaves Beach Games 2012”.

 

Na fotografia da capa aparece o senhor vice camarário de mãos entrelaçadas e a sorrir para o fotógrafo, rodeado por diversas pessoas, nomeadamente por um seu colega de partido, que é para estas coisas que eles existem e fazem política à boleia do desporto.

 

Na notícia que acompanha a foto não encontrámos nem uma única palavra do senhor vereador. O que nos leva a concluir que apenas lá foi para aparecer na fotografia e, em consequência, nas capas dos semanários regionais.

 

A ambição política tem destas coisas, transforma homens simples em personagens fotográficas. Isto independentemente da qualidade, da verticalidade, da coerência, da competência, da seriedade e das ideias. Raio de política que transfigura as figuras públicas em “emplastros”.

 

PS 2 – Não é por nada, mas não ficaria de bem com a minha consciência se não dissesse aos organizadores que talvez não fosse má ideia que o evento desportivo que organizam se chamasse pura e simplesmente “Torneio de Futebol de Praia de Chaves”. Depois queixamo-nos que cada vez mais a nossa língua é desprezada, esquecida e rejeitada. Se somos nós próprios a renegá-la o que pensarão os outros povos de nós. Lembrem-se de Fernando Pessoa: a minha Pátria é a língua portuguesa. Sejamos, pois, patriotas. Podem estar seguros de que o torneio não perde qualidade por isso.

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