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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

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22
Out12

Pérolas e diamantes (8): O drama nacional seguido de duas boas notícias

João Madureira


1 – O Drama

 

Manoel de Oliveira tem um novo filme, “O Gebo e a Sombra”, feito a partir de uma peça escrita por Raul Brandão em 1923. O filme não tem efeitos especiais, tal e qual como a vida que agora nos toca viver.

 

Todo o filme é de uma atualidade acutilante, funcionando como um espelho do momento que atravessamos e que se vinha insinuando vai bem para mais de uma década.

 

Nele encontramos tudo aquilo que infernizou o nosso viver coletivo durante a já longa existência do país: o horror da pobreza, a impiedosa divisão entre castas, classes sociais e económicas e o intransponível fosso existente entre os exageradamente ricos e os ridiculamente pobres.

 

No fundo, o filme é uma crítica mordaz ao capitalismo selvagem que as elites políticas que nos governam pretendem tornar viável. E o que é trágico é que estão mesmo à beirinha de o conseguir.

 

No filme é notória a visão maniqueísta de que temos de cumprir o dever de empobrecer para conseguir sobreviver, baseada no princípio filosófico que Kant definiu como “imperativo categórico”: “O homem apenas se diferencia dos animais quando cumpre o seu dever”, o que na lógica neoliberal do governo da Nação pode ser traduzido por subir na vida à custa da luta desenfreada pela ascensão política, social e económica.

 

Convém lembrar aos mais distraídos que a ambição costuma cegar e a ambição desmedida chega mesmo a matar.

 

Saindo do filme para a realidade, basta reparar nas palavras e nos seus autores para nos apercebermos do ambiente letal que se instalou no país (diz-me como falas, dir-te-ei quem és). Por exemplo, Nuno Amado, o presidente do BCP, afirmou ao Expresso: “Vamos executar, sejam acionistas ou não”. O que na boca de um banqueiro é quase uma frase assassina.

 

Marques Mendes, ex-líder do PSD, e temível comentarista da TVI, referindo-se às últimas decisões do Governo, proferiu: “Isto não é um agravamento fiscal. É um assalto à mão armada.”Mas não se ficou por aí, logo de seguida acusou o PSD de “liquidar a classe média”. E olhem que o pequeno homem do Minho sabe bem daquilo que fala.

 

António Capucho, também ele membro destacado do PSD, admitiu, numa entrevista ao mesmo jornal, curiosamente propriedade de Pinto Balsemão, um dos fundadores do PSD, que com esta gestão danosa dos destinos do país, o PSD, se sobreviver, vai tornar-se um partido odiado.

 

Em discurso aberto, disse que o PSD se transformou numa “máquina fechada que rejeita qualquer inovação e crítica, que chama os seus fiéis e marginaliza os que têm pensamento próprio”.

 

E foi mesmo mais longe: “Não vemos (por parte do Governo) uma estratégia alternativa que permita inverter os efeitos perversos das medidas de austeridade sobre o consumo, a economia e o emprego, efeitos que são evidenciados pela preocupação orçamental.”

 

E a prova provada de que o que Capucho afirma é uma verdade incontornável vem escarrapachada nas páginas do mesmo semanário: “39 mil empresas na restauração podem fechar com IVA a 23%”, o que, segundo a Associação de Hotelaria, Restauração e Similares, significa a extinção, em apenas dois anos, de cerca de 100 mil postos de trabalho. Brilhante, pois pior é impossível. E se pensarmos que os comerciantes são a grande base eleitoral do PSD, o caso pode atingir proporções de drama identitário.

 

Concordemos que para acabar com o que resta da economia do país, é o golpe de misericórdia perfeito.

 

Claro que também há setores laborais que dão um grande contributo para o caos. O mais paradigmático é o caso da CP, que desde janeiro deste ano não teve um único dia de calendário que não fosse afetado por um qualquer pré-aviso de greve, total ou parcial. O que, convenhamos, é obra. Obra de destruição, claro está. No entanto encapotada sobre o manto diáfano de reivindicações dos trabalhadores. Num país em guerra social, anda tudo a ajudar à festa.

 

Vítor Gaspar, vendo-se acossado pelos apupos dos deputados, pelos dichotes dos comentaristas e pelas greves e manifestações dos portugueses, resolveu construir um momento dramático no parlamento ao afirmar textualmente, com a sua vozinha de menino reguila: “O povo português revelou-se o melhor povo do mundo e o melhor ativo de Portugal.”

 

A mim até as lágrimas me vieram aos olhos. De riso. Talvez nervoso, convenhamos, mas é que este tipo de gente provoca-me urticária e arrepios na espinha.

 

No entanto não quero terminar sem vos dar conta de uma boa notícia, ou melhor, duas.

 

2 - As boas notícias

 

Primeira: Veio nos jornais que uns mergulhadores descobriram 120 espécies novas nas ilhas das Berlengas, entre anémonas cor-de-rosa e peixes azuis escondidos em recifes de corais vermelhos. Descoberta que encheu de orgulho e prazer a minha costela de ecologista empedernido.

 

Segunda: O militante social-democrata, e atual presidente da junta de Santa Maria Maior, João Neves, depois de ter declarado publicamente, num jantar de autarcas do PSD flaviense, o seu apoio a António Cabeleira, com a já célebre frase: “António, tu si que vales!”, pensou melhor e resolveu anunciar ao povo do nosso concelho que vai candidatar-se à presidência da Câmara de Chaves como independente. Ou seja, mandou o valioso António às malvas.

 

Candidaturas destas só nos podem orgulhar. E quantos mais candidatos houver mais possibilidades têm os eleitores flavienses de escolher em consciência. E, quem sabe, até acertar. Então se forem todos da mesma valia de João Neves, o nosso futuro está garantido, pois, ganhe quem ganhar, quem definitivamente triunfa é a cidade, o concelho e, sobretudo, o nosso povo.

 

Candidaturas com este nível são bem o espelho do enorme prestígio de que goza a nossa autarquia. Enaltecem, por si só, o valor intrínseco com que contribuíram os três mandatos da gestão do PSD. Por isso, e como é público e notório, a autarquia flaviense é atualmente elogiada por esse país fora. E até mesmo nos Açores e na Madeira. Ah, e também nas Berlengas. Chegou mesmo a ser citada em várias reuniões da Associação de Municípios, e noutros fóruns do estilo, como um exemplo de gestão criativa, dinâmica, enérgica, carismática, financeiramente rigorosa e culturalmente exemplar.

 

Por isso o comércio local está em plena recuperação, a cidade fervilha de dinâmica turística, o nosso património histórico é um exemplo de recuperação e conservação, a nossa população jovem arranja empregos com facilidade, muito pela ação dinamizadora e empreendedora do nosso vice-camarário, o Pólo da UTAD viu muito recentemente os cursos a aumentar, as ruas estão limpas, os jovens têm propostas culturais interessantes, o centro da cidade é, durante a noite, um exemplo de civismo, paz e amizade, as obras prometidas estão em andamento, o parque de estacionamento no centro da cidade é uma nova e encorajadora realidade e o pavilhão multiusos vai possibilitar fazer a Feira dos Santos dentro de portas e com a dignidade que nunca teve.

 

Estamos também em condições de adiantar aos nossos estimados leitores que nos pavilhões desportivos que atualmente se encontram em construção, a autarquia vai levar a efeito os campeonatos europeus de berlinde, matraquilhos, jogo do pião, bilharda, fito e setas.

 

Vão realizar-se, ainda durante os próximos meses, bem à semelhança das que foram organizadas em anos anteriores, e com o sucesso que todos sabemos, a Feira do Mel, a Feira do Presunto de Chaves, a Feira do Pastel de Chaves, seguida de várias exposições de pintura, simpósios e até um congresso internacional, a Feira das Águas Termais, a Feira do Vinho, a Feira das Procissões, que contará sempre com a presença do Senhor Bispo de Vila Real, com a do excelentíssimo senhor presidente da Câmara de Chaves, com a do digníssimo senhor vereador/vice-presidente e putativo candidato António Cabeleira, bem como a excelentíssima esposa do segundo.

 

Foram especialmente convidados a fotografar esta feira para a posteridade, os membros da Associação de Fotografia Lumbudus. Para o final está agendada uma exposição fotográfica inaugurativa da nova sala de exposições do antigo Cineteatro de Chaves (transformado em edifício cultural multiusos), gentilmente cedida pelo senhor presidente da Câmara à dinâmica associação, como cumprimento de uma promessa feita há cerca de dois anos aos elementos da sua direção, em reunião formal concedida com esse mesmo propósito.

 

Peço desculpa, mas tenho de interromper aqui a narrativa, pois o senhor diretor do Notícias de Chaves pediu-me para ser um pouco mais poupado nas palavras. É que o espaço não sobra e, além disso, custa bom dinheiro. E dinheiro é o que mais falta nos bolsos da gente séria e trabalhadora.

 

Para a semana há mais novidades. Penso eu. Isto se o senhor primeiro-ministro permitir e o senhor presidente da câmara de Chaves e seu respetivo vice não se importarem.

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