Pérolas e diamantes (12): o sorriso do ex-putativo… candidato
Slothrop, ou melhor, o tenente Tyrone Slothrop (cujo nome é um anagrama de «sloth or entropia», que é igual a “preguiça ou entropia”), um dos personagens do livro Arco-Íris da Gravidade, do enigmático escritor norte-americano Thomas Pynchon, querendo fazer ver que a paranoia tem a utilidade teológica de tornar a Criação inteligível, reflete a determinado momento: “Se há algo de consolador – de religioso, se quisermos – na paranoia, também há a antiparanoia, onde nada se liga a nada, uma condição que poucos de nós conseguem suportar… por muito tempo.”
Confusos? Pois vão deixar de o estar daqui a alguns momentos. Por enquanto tenham paciência e deixem-me, das duas uma, ou arriscar tentar ser famoso, ou fazer famoso alguém, pois essa é a forma que nós temos de reconhecer na rua as pessoas célebres. E há na política muita gente ansiosa por não se conseguir imaginar ver fora do poder sem entrar em depressão. No entanto, começam já a sentir falta de alguma coisa, pois sabem que apenas reparamos no poder quando ele nos falta. Ou melhor, nós humanos sentimos mais a sua falta quando nos abandona. Ou está prestes a abandonar-nos. De certa maneira comportamo-nos como felinos que sonham em voar com a simples ação de… comer aves.
Os dirigentes que atualmente nos governam querem fazê-lo sacrificando a população portuguesa, mas é caso para perguntar, que pai faria isso aos seus filhos? Um verdadeiro líder sacrifica-se, não sacrifica o seu povo. Os líderes que atualmente por aí andam apenas se comportam como malfeitores vestidos de… fato e gravata.
Os romanos consideravam que a fama era um monstro repleto de olhos e de bocas com asas. Também estes governantes e autarcas que nos calharam em sorte andam sempre acompanhados pelos boatos que eles próprios criam, difundem e ampliam. E apelam sempre à credulidade. Isto para espanto e incredulidade dos eleitores. Os romanos tinham razão, estes senhores dizem a verdade com umas bocas ao mesmo tempo que mentem com… as outras.
É ver o caso do Tribunal de Chaves, onde o PSD flaviense faz oposição ao PSD nacional, porque lhe vê fugir o chão eleitoral debaixo dos pés. E o mesmo se aplica ao Hospital de Chaves. Mas por muito que estrebuchem, o garrote ideológico do seu líder máximo vai definitivamente levá-los ao desespero e à abdicação. Bem podem balbuciar desculpas em comunicados inócuos, que a realidade neo-liberal lhes fará o que é inevitável, desmascará-los como demagogos e… picuinhas.
São homens e mulheres de um pensamento só: conservar o poder a todo o custo. Mesmo que este seja conquistado à base da mentira, da abdicação e… do improviso.
A experiência diz-nos que se um desconhecido disser uma verdade, logo lhe dirão que é uma idiotice. Mas se alguém famoso disser uma palermice, ela passará ser encarada como… a verdade.
Os atuais dirigentes do PSD dizem cobras e lagartos do PS e das suas antigas políticas suicidas de despesismo e de reformas milionárias adquiridas numa dúzia de anos. E até têm razão. Mas é essa mesma razão a que destrói o argumento pela… base.
Todos sabemos que, segundo o semanário Sol, a atual segunda figura de Estado, a senhora presidente do Parlamento, recebe uma pensão de 7255 euros por dez anos de trabalho como… juíza do Tribunal Constitucional.
Por não poder acumular esse valor com o ordenado de Presidente do Parlamento (também uma lei de José Sócrates), Assunção Esteves abdicou de receber pelo exercício do seu atual cargo, cujo salário é de 5219 euros. No entanto mantém o direito a ajudas de custo no valor de 2133 euros. Ora, no total, a senhora aufere mensalmente 9388 euros. Uma pensão de miséria, conquistada numa vida inteira de… trabalho e canseiras.
Repito: É a segunda figura do Estado, estamos em crise e, além disso, é militante de topo do… PSD.
Volto a repetir: É militante do PSD e a segunda figura de Estado, de um Estado em crise profunda onde a classe média está a ser vergonhosamente espezinhada por… impostos estratosféricos.
Mas voltemos aos laranjinhas cá do burgo. Parece que há no PSD gente que não consegue senão pensar em ocupar a cadeira de presidente da autarquia flaviense. Apesar de já entradotes na idade, assemelham-se aos jovens, pois não conseguem ver as coisas para além… das coisas.
A circunstância de Fernando Campos querer vir invadir o terreno político autárquico que por princípio pertence a António Cabeleira, permanece um mistério cuja resolução só poderá ser o próprio mistério. Mas todos sabemos que o autarca barrosão não dá ponto… sem nó.
Uma coisa já conseguiu, fazer com que António Cabeleira metesse pés a caminho até Vila Real para fazer aprovar a sua candidatura à Câmara de Chaves e logo de seguida rumasse caras a Lisboa para que a Comissão Nacional do PSD a ratificasse em… tempo recorde.
Isto depois de ter convocado um plenário concelhio do PSD flaviense, onde apenas compareceram os apaniguados do ex-putativo candidato. Os opositores de António Cabeleira, sabendo como são estas coisas, sabendo como se arregimentam apoios, e para não parecer mal, resolveram ir fazer a oposição ao vice-camarário em reuniões informais, em contactos pessoais e em… grupos de amigos.
Que me lembre, e eu tenho alguma memória, apenas uma vez se soube de tanta animosidade e tanta conspiração dentro do PSD, foi no tempo do último mandato de Branco Teixeira. E o homem acabou por… perder.
Pensando que afastou definitivamente a potencial, e incómoda, candidatura de Fernando Campos à Câmara de Chaves, António Cabeleira apareceu pela primeira vez a esboçar um sorriso nas capas dos jornais. Claro que ainda tímido e envergonhado, pois só dele, do sorriso, claro está, nos apercebemos pelo estender dos lábios e pelo brilhozinho nos olhos, já que os dentes ainda ninguém lhos conseguiu ver. Mas mesmo assim… um sorriso.
Finalmente sorri. E nós também. E com ele. E por ele. E dele. A amizade isso nos impõe e a isso nos obriga. Mais a mais, um sorriso do “oficialmente candidato pelo PSD à Camara Municipal de Chaves”, como veio escarrapachado nos jornais da terra, enche-nos de… felicidade.
Nós somos assim, solidários. E a felicidade dos nossos conterrâneos é como seja a nossa própria felicidade, pois sentimos que o seu sorriso vale mais do que mil palavras. E nós tocados por um sorriso daqueles, pela sua espontaneidade, pelo seu arreganho, pelo seu engenho, pela sua eloquente arte, como diz um spot publicitário da TSF, vamos ao fim da rua, vamos ao… fim do mundo.
Mas no nosso último escrito, prometemos que iríamos dedicar algumas palavras à candidatura independente do militante do histórico do PSD flaviense, e atual presidente da Junta de Santa Maria Maior… João Neves.
Na verdade, vou pegar na carta de João Neves ao “Notícias de Chaves” porque me parece honesta, genuína, desassombrada, até talvez ingénua, mas… verdadeira.
Logo de início pergunta, como quem responde a insinuações malévolas, se o artigo “A Política Será Assim?, visando a sua pessoa, foi escrito porque João Neves incomoda… alguém?
Sobre a organização de um almoço de apoio ao “senhor Cabeleira”, confirma que sim o fez “mas a mando deste” (e nós, ingénuos, a pensar que tinha sido espontâneo!) “pois andava assustado com a ameaça de um outro candidato… à Câmara”.
Caro amigo João Neves, aqui permita-nos discordar, mas o ex-putativo candidato António não se assusta com ameaças dessas. Ele é daqueles que dá o corpo às balas. Além disso, é um militante partidário que não conspira, só inspira e expira, como todos… nós.
Mais adiante refere que “desde então o putativo candidato” (permitam-nos que retifiquemos, o ex-putativo candidato) “tomou a peito alguns dossiês que, não só redundaram em fracasso, como, através deles, hostilizou por completo a maioria dos… Presidentes de Junta.”
De seguida coloca uma questão: Será que os presentes nesse almoço ainda estão com o ex-putativo candidato? A seguir lança um desafio. E que desafio: “Que faça outro almoço para saber a… verdade!”
Sobre a agregação das freguesias, pergunta se será “algum crime defender a restauração da antiga freguesia de Chaves? Não sou carneiro, logo não tenho que seguir o pensamento… do «chefe»”.
A terminar, João Neves pergunta, e nós com ele: “Vozes de burro algum dia chegarão ao céu?” Cá ficamos à espera… da resposta.
Numa nota final, João Neves acusa o autor do artigo “A Política Será Assim?” de ser um encapotado que mais não pretende do que assustá-lo e demovê-lo das suas intenções. Por isso lhe manda um recado: “Nada nem ninguém me arredará do meu percurso. Aos que andam atrapalhados e com medo, dou uma sugestão: comprem… um cão.”
Pois é caro ex-putativo candidato António, quem semeia ventos colhe… tempestades.
PS – Novo apelo: Caro senhor presidente João Batista, os flavienses já desesperam com a sua prolongada ausência das cerimónias camarárias e outras análogas, e por consequência dos seus sempre bem-dispostos retratos nos jornais. Apareça, caro senhor presidente. Por favor, apareça mesmo que seja por um momento ou dois, pois sentimos a falta da sua serena e simpática postura. A presença useira e vezeira do seu vice já nos começa a inquietar um pouco. Vá lá senhor presidente, não nos abandone antes mesmo de abandonar definitivamente o cargo para que foi eleito. Por favor! O povo que em si votou reclama-o. Por isso faça-lhes, faça-nos, a vontade. Por favor, por favor senhor presidente. Olhe que nós sentimos a sua falta. Não permita que façam de si um fantasma. Vá lá, senhor presidente. Não nos obrigue a fazer uma petição pública ou um abaixo-assinado. Vá lá, faça-nos a vontade, nem que seja só por uma única vez. Vá… lá.