Pérolas e diamantes (43): objetos políticos em movimento
Pacheco Pereira tem razão: “Estamos a chegar a uma situação em que tudo é melhor do que isto.” E nós queremos referir-nos tanto ao que se passa no país como ao que se passa no nosso concelho.
Sim. Tudo é melhor do que a situação atual.
A situação é tão grave que está mesmo posto em causa o próprio sistema democrático. Então na província, o clima que se vive é de cortar à faca. Está instalado nos partidos políticos, e na sociedade em geral, o medo do confronto de ideias, do debate, da discussão livre e séria.
Será que todos somos bons? Os que gerem mal e os que gerem bem, os que intimidam e as vítimas da intimidação, os que falam e os que calam, os que mentem e os que dizem a verdade, os que perseguem e os perseguidos? Será?
Nestes tempos de triunfo da nulidade e do incremento da arbitrariedade, Ruy Barbosa está mais atual do que nunca. Foi ele que escreveu uma frase tremenda em tudo, até na sua atualidade: “Um homem chega a ter vergonha de ser honesto.”
Pregar a honestidade, comportar-se com um mínimo de dignidade, apelar à alternância, parece ser uma atitude quase insultuosa. E todos os que se indignam com este estado de coisas acabam por passar por estúpidos, ou por radicais.
Mas tem de existir lugar para a decência, sobretudo na política e, especialmente, na gestão autárquica.
Os partidos políticos tradicionais, sobretudo os que se alternam no poder, capturaram o sistema político democrático. A nível nacional, ficando reféns dos grandes interesses económicos, sobretudo da banca. A nível autárquico deixando-se encurralar entre as clientelas partidárias e os interesses das denominadas forças vivas, que muita das vezes são “vivas” apenas de nome, pois todos as sabemos defuntas há muito tempo.
A gente que se sucede no poder é sempre a mesma. Sentam-se na mesa do partido e esperam que a sorte lhes venha bater à porta. Não discutem uma ideia, não se interessam pelos outros, não discutem nada, apenas se limitam a apregoar a putativa cartilha ideológica, a obedecer ao chefe e a conspirar por grupos de amigos ou de interesses instalados.
Se pensarmos bem, em Chaves, desde há muito tempo a esta parte, não há Câmara, nem existe presidente. Há apenas um grupo de pessoas que se fecha nos seus gabinetes no edifício da Praça de Camões e se entretém a tratar da sua carreira política.
Esta gente anda literalmente a gozar connosco. Trata-nos como se fossemos seus súbditos. E isso é uma afronta a todos nós.
Pelo que vamos assistindo, tudo nos leva a concluir que os partidos políticos são incapazes de produzir, ou de chamar para as suas fileiras, pessoas capazes. Ou, quando elas aparecem, afastam-nas rapidamente, não vão elas contaminar a militância apática e subserviente.
A paranoia, tal, como o barro, é moldável.
Os nossos chefes autárquicos, quando se aproximam os ciclos eleitorais, fazem-nos sempre lembrar aqueles jovens a tentarem parecer mais velhos, ou os pobres a tentarem parecer ricos, ou aqueles mentirosos a tentarem passar por gente que apenas diz a verdade.
Imaginam-se indiferentes às opiniões dos outros. Tentam zombar dos movimentos políticos de base independente. Só que não é possível desvirtuar um objeto em movimento. Cada um leva consigo o seu próprio caminho. Isso é o que engrandece os homens e as mulheres livres.