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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

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22
Jul13

Pérolas e diamantes (47): os trinta dinheiros e o feitiço das laranjas

João Madureira


Tudo indica que a gente de Chaves aprecia os líderes políticos que colocam os afetos e os princípios à frente das conveniências. Pessoas que têm ideias, convicções e que, sobretudo, acreditam naquilo que fazem e por isso conseguem fazer os outros acreditar de que é possível construirmos um futuro melhor. E olhem que, nos tempos que correm, conseguir protagonizar a esperança não é tarefa para qualquer um.

 

Está provado que o que se espera de um líder político não são ideias baralhadas e um arrazoado de promessas que todos sabemos serem impossíveis de cumprir. O que todos exigimos é alguém com ideias claras, com convicções profundas, que transmita esperança e que ame a nossa terra tanto como o mais humilde e intrépido dos flavienses.

 

O poder autárquico instalado na nossa terra parece desprezar a inteligência dos flavienses. Daí as sucessivas tentativas de nos tentar ludibriar com promessas vãs e com obras irrealizáveis. Mas na política nunca se deve subestimar o pouco que aparentemente as pessoas sabem sobre a situação financeira das instituições públicas. 

 

Uma coisa todos sabemos, na sociedade existem sempre aqueles que se acobardam e aqueles que comandam. Daí a necessidade imperiosa de apoiarmos quem saiba exercer o poder, como ensinava Sócrates, de forma simples e humilde, nunca se cansando de procurar a “virtude e a sabedoria”.

 

Desde há muito tempo que nos habituámos a olhar Chaves, porque a temos no coração, na sua perspetiva sólida, enraizada, resplandecente, gloriosa, inatacável. O poder faz-se e desfaz-se, mas a cidade mantém-se.

 

Esta gestão autárquica do PSD faz-me lembrar os tempos em que comia em cantinas. Quando muitos de nós tentávamos questionar a qualidade da comida, as chefias respondiam-nos sempre que a comida ali servida constituía uma dieta equilibrada. De facto era equilibrada, mas entre o intragável e o impossível de comer.

 

Nunca, como hoje, a política autárquica esteve tão necessitada de clareza, humildade e afetos. Quem se deixa iludir pelo dinheiro, pelas promessas vãs e pela prepotência acaba definitivamente derrotado, mesmo pensando que triunfou. No livro de Camilo Castelo Branco, O Demónio do Ouro, São Francisco de Sales avisa: “O dinheiro pode ser um bom servidor, mas é sempre um mau senhor.”

 

Alguns dirigentes autárquicos, pensando que se estão a servir dele, para aliciar, por exemplo, presidentes de junta para as suas listas, estão já a ser seus escravos. O medo de perderem o poder leva-os a atitudes desesperadas e mesmo mesquinhas.

 

Em ata camarária de 18 de julho de 2013, a Câmara de Chaves (num gesto de aliciamento serôdio e deselegante a presidentes de junta, alguns dos quais abandonaram as suas cores partidárias anteriores para se candidatam agora pelo PSD), assinou um denominado “protocolo” (que mais não parece ser do que os trinta dinheiros pagos a Judas) com 11 juntas de freguesia no valor total de 187.973 euros.

 

Oito invocando como motivo “arruamentos”: Vilas Boas (10.000€), Cimo de Vila da Castanheira (15.000€), Calvão (10.000€), Santa Cruz/Trindade (45.000€), Santo Estevão (10.000€), Vilarelho (15.000€), Eiras (25.000€) e Redondelo (12.000€).

 

Um invocando como motivo “saneamento”: Outeiro Seco (23.000€); outro invocando como motivo “equipamento Centro de Dia”: Soutelo (7.973€); e um terceiro invocando como motivo

“abastecimento de água”: Arcossó (15.000€).

 

E assim pensam comprar consciências e boas vontades. A três meses das eleições, como se fossemos um pobre concelho da América Latina, onde ainda se compram votos por uma malga de caldo e um par de botas. Estes gestos definem bem o caráter e a honradez políticas destes senhores.

 

A Rainha Santa Isabel, em pleno janeiro, conseguiu fazer um milagre e transformar o pão, que levava no regaço para os pobres, em rosas, para descanso do seu rei e senhor. António Cabeleira pretende, passados tantos séculos, protagonizar o milagre das laranjas, transformando paralelos em votos. Mas talvez o pretendido milagre se transforme em feitiço e se vire contra o feiticeiro.

 

Até que lhe era bem feito.

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