Antigamente os filhos mais valorosos matavam-se para libertarem o bem. Antes do sacrifício saciavam-se de vinho. E de verdade. E morriam combatendo todo o dia contra o inimigo. Os seus corações eram audazes. Incendiavam os vales e rodopiavam em volta das labaredas. O vento soprava por todos os lados. Os carros ficavam manchados de sangue dos cadáveres. Mas eles continuavam a lutar salpicados de púrpura viva e de pó para atingirem a glória. Os homens encontravam a morte abandonados. Os seus inimigos e os seus deuses eram cruéis. Alguns morriam olhando para ilhas distantes. E a desgraça chegava quando todos perdiam a razão. A desonra era chegar a velho. Ninguém aguentava presenciar tanta desgraça. E não lutar. Os filhos morriam depois dos pais, as filhas eram maltratadas, as câmaras nupciais eram vandalizadas, as crianças de tenra idade eram atiradas ao chão. Por fim, os cães vorazes dilaceravam os corpos inertes. Os ainda vivos arremessavam as suas armas aos cães. Nos palácios, os ciclopes guardavam as portas enquanto os reis enraivecidos bebiam o sangue dos guerreiros mais intrépidos para lhes ficarem com a coragem, com a força. E a loucura. Os cadáveres dos filhos dos reis eram expostos em câmara ardente atravessados por espadas agudas de bronze. Tudo neles era belo. Até a morte. Cá fora, os mastins devoravam os órgãos genitais dos pobres mortais. As viúvas, dentro dos casebres, mergulhavam num luto terrível. E amaldiçoavam a guerra. Para elas não havia futuro. Outros se apoderavam das suas terras e dos seus corpos. As crianças órfãs andavam sempre de cabeça baixa e com as faces molhadas de lágrimas. Além da dor que sofriam, eram obrigadas a dirigirem-se aos amigos dos pais para lhes pedirem vinho. Puxavam-lhes pelas túnicas e pelas capas. Eles estendiam-lhes rapidamente as taças e apenas lhes deixavam molhar os lábios. Mas não a boca. Aos que tinham ainda os pais vivos batiam-lhes, injuriavam-nos e expulsavam-nos dos festins. Os meninos voltavam então para junto das suas mães viúvas e tentavam dormir. Nunca sonhavam. Não sabiam sonhar. Quando cresciam iam defender as portas e as altas muralhas das cidades. Então olhavam para as naus e também para os palácios onde os seus senhores vestiam longas túnicas douradas e as respetivas esposas se saciavam de sexo e luxúria com escravos de cor de ébano. Os senhores riam-se. As mulheres gemiam. Os deuses espalhavam a sua loucura ventosa pelos mares. As rochas fendiam-se. A população andava pela terra em enxames compactos cumprindo a vontade dos deuses. O chão ressoava terrivelmente debaixo dos seus pés. Eles não sabiam que era a sua coragem louca aquilo que os matava. E os fazia matar. Não havia consolação. Não havia destino. As cidades eram inacessíveis. Mesmo assim, os mais corajosos tentavam assaltá-las. As suas mulheres tinham vergonha de tudo. E preocupavam-se. E batiam no peito, porque sofriam imenso. Os melhores guerreiros domavam os cavalos. Os melhores senhores domavam os guerreiros. E os melhores reis domavam os senhores. No céu as estrelas brilhavam. Os deuses bem-aventurados tocavam o cume dos céus para sentirem a sua suprema glória. Os ricos ofereciam aos seus deuses ovelhas, bois e vinho adoçado com mel. Mil fogueiras ardiam. O vento invadia a planície. O céu rompia em pranto. O clarão cegava os deuses da paz. Do alto do seu trono dourado, o supremo deus da guerra avisava os homens que estava novamente no momento de mais uma guerra começar. Ninguém era capaz de dizer se o sol, a lua e as estrelas continuavam a existir.
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