Pérolas e diamantes (56): urge reformar o sistema político
Basta andar um pouco por esse concelho fora para nos apercebermos que as pessoas estão frustradas e ofendidas com este governo e, sobretudo, com esta gestão autárquica. Estão indignados com os abusos desta Câmara gerida por um PSD em desagregação. O nosso povo quer ordem, tranquilidade, progresso e uma sociedade genuinamente democrática. Não este arremedo de gente que não governa nem deixa governar.
De facto, em Portugal, como muito bem refere José Miguel Júdice, “não há uma sociedade civil. O Estado fez a sociedade, não foi a sociedade que fez o Estado.” Daí estes caciques de província gerirem as instituições públicas a seu bel-prazer, distribuindo benesses, empregos e obras apenas pelos apaniguados.
É visível na nossa sociedade um gosto mal disfarçado pelo autoritarismo. Somos ainda impotentes como povo. Gostamos de gritar, mas depois ficamo-nos pela impotência. E essa é a pior das limitações.
Apesar dos sinais, os processos de gestão autárquica na nossa terra nem sequer chegam a ser de repressão evidente. Basta-lhe meter medo. A coragem continua a ser considerada uma coisa de inúteis.
Adaptando as palavras de Trotsky à dimensão da nossa realidade, podemos escrever que não é verdade que o poder come os seus filhos. O poder come os seus filhos bons. Os filhos maus comem o poder.
Os dirigentes políticos quase sempre chegam ao poder não se zangando com ninguém. Ascendem rastejando, intrigando, prometendo, penhorando e trocando promessas por mentiras. Por isso é que quando aparecem no cimo já não possuem nenhuma disposição psicológica para agirem em conformidade com as suas ideias e os seus princípios. Passam apenas a ser teimosos.
A política necessita de pessoas capazes de arriscarem tudo na base das suas convicções. Por isso é que é necessário acabar com as lógicas de conservação do poder pelo poder e eliminar a perniciosa influência mafiosa dos aparelhos partidários. Como diz José Miguel Júdice: “É preciso acabar com estes partidos.”
Por razões de compromisso político, livre e publicamente assumido, vi-me na curiosa e estimulante situação de falar com as pessoas no sentido de as estimular a votarem na diferença e na independência políticas. Resumindo, na Mudança.
Rodeado pelos amigos do MAI percorremos os bairros e ruas da cidade e calcorreamos os caminhos das nossas aldeias. Fizemos uma campanha devagarinho, como convém a quem realmente se interessa por ouvir a gente do nosso povo.
É um trabalho apaixonante e ao mesmo tempo comovente. Percebe-se que existe uma nova pobreza escondida e envergonhada. Está a perder-se a coesão social.
Para satisfazer clientelas, a lógica política dos partidos tradicionais fez com que se desperdiçassem recursos públicos em projetos mirabolantes e, quando não, estúpidos. Por isso o nosso país definhou. Por isso a nossa cidade atrofiou.
Mas temos que acreditar que através do desenvolvimento económico as cidades podem voltar a ser um fator de crescimento. Chaves pode transformar-se num polo competitivo e criar emprego.
Mas emprego verdadeiro e sustentável, pois não podemos fazer como António Cabeleira e João Batista que apenas garantiram emprego municipal à sua fação do PSD.
A despesa pública tem de ser contida, mas não na base de cortes cegos, normalmente maus e pouco eficientes.
Há conjuntos de empresas semipúblicas que contratualizam com o Estado com a nítida intenção de o prejudicar. Os swaps são disso exemplo paradigmático. Ou seja, existem em Portugal grupos falsamente estatais que à primeira vista parecem estar nas mãos de privados, mas, no fundo, continuam a dominar o Estado, com evidente prejuízo para todos nós.
Por isso é que já todos percebemos que a primeira reforma necessária não é a do Estado, mas sim a do sistema político.
Uma democracia não pode viver sem partidos. Nós não somos contra os partidos. Achamos é que, como diz Rui Moreira, eles necessitam de levar um cartão amarelo. Pois o regime, tal como o conhecemos, corre o risco de implodir.
A maioria dos municípios, incluindo também o de Chaves, está falida. E o nosso vice-presidente tem ainda a distinta lata de vir prometer mais obras e mais tachos aos seus apaniguados.
Por isso acredito que os cerca de cem movimentos independentes que concorrem a estas eleições autárquicas podem forçar uma reforma do sistema político.
Assim o povo queira tomar nas suas mãos o seu destino.