Apetites freudianos
– Mãe, estou toda molhada.
– Sim, espera um pouco que vamos ali comprar um guarda-chuva aos chineses.
– Mãe, estou cheia de frio.
– Pois, mas espera um pouquinho, não vês que estou a dar de mamar ao teu irmão!
– Mãe, estou cheia de fome.
– Eu sei que estás, mas tens que ter paciência e esperar um pouco até te poder comprar qualquer coisa para comeres.
– Mãe, apetecia-me leite quente.
– O quê?
– Apetecia-me leite quente.
– Espera um pouco. Não vês que estou a dar de mamar ao teu irmão! Quando chegarmos ao café logo te dou qualquer coisa.
– Que coisa, mãe?
– Qualquer coisa. Uma sandes de fiambre ou de queijo e um sumol para beberes, por exemplo.
– Mas mãe apetecia-me muito beber leite quente. É que estou cheia de fome e ainda é longe até ao café.
– Tem paciência. Espera um pouco. Deixa-me acabar de dar de mamar ao teu irmão.
– Mãe, estou cheia de fome e de frio e estou toda molhada. E apetecia-me muito beber leite quente.
– Será que também queres mamar? Não tens vergonha! Uma menina da tua idade a querer mamar na teta da mãe.
– Mas mãe o Rui também já é crescidinho e mesmo assim tu ainda lha dás.
– Não me digas que estás com ciúmes do teu irmão.
– Não sei. Eu ainda sou pequenina e tenho muita vontade de beber leite quente. Dá-me a teta, mãe. Sinto tantas saudades de mamar.
– Se não te calas, o que te dou é um bom par de bofetadas…