Estás profundamente íntima...
Estás profundamente íntima como um fruto ao sol. Dá-me a mão porque quero sentir a tua memória silenciosa. Apago lágrimas rápidas num sorriso que te é dirigido. Os teus olhos são faúlhas feridas pela ondulação do mundo. A tua cara luminosa ama a luz e as palavras que nos nascem na boca. Há inúmeros lugares no teu corpo que inventam espaços. Consumo devagar o meu tempo acelerado. É Primavera no canto dos pássaros e no meu corpo já é Outono. A melancolia procura devagar aquilo que vai destruir. Pões-me palavras pesadas nas mãos e eu desfaleço. Vêm paisagens de longe sentar-se ao meu colo batidas pelo vento. Começa um novo tempo insuportável. O tempo da ternura e do silêncio escuta o nascer dos bichos. Explicas-me a morte e a alegria com palavras veladas pela curva fechada dos sentidos. O teu tempo de mulher refaz-se. As coisas nascem de ti, da tua boca de água. Alguém arranca a floração das imagens. Tremem-me os dedos nos objectos que toco. Tu és um objecto que brilha. A leveza da minha mão desequilibra o teu regresso. As tuas mãos velozes levantam a flor que cortaste pela manhã. Também eu amei lentamente o segredo das coisas mínimas. A juventude vingativa. A ardente confusão de ser adulto. A loucura dos indivíduos que dormem acordados. O silêncio completo dos dias apagados. Dizes: qualquer paixão crepita no escuro. Os corpos incendeiam-se dentro das casas. Os lençóis brilham como se fossemos diamantes de desejo. Nervo a nervo, a doçura salta entre a boca e o sexo. Atrais deus ao pecado. O teu sexo é oxigénio puro. O amor queima como chumbo fundido. O teu corpo queima como uma caixa de vidro ao sol. Os nossos sexos são agora espelhos torrenciais de luz. No final os púbis brilham. O prazer escoa-se sibilante nos nossos corpos ardidos de cansaço. Há uma cratera límpida no nosso desejo. Adormeço junto ao brilho do teu rosto em descanso.