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TerçOLHO

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16
Abr21

História da Espionagem - Notas e relatório confidencial (Agente José Manuel) PARTE VII

João Madureira

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Haiku nº 5: A geada / abre feridas / na terra

Antigamente, os militares tentavam sempre aproveitar os terrenos mais elevados porque, a partir daí, era possível enxergar mais longe. Dessa forma, existe sempre uma maior possibilidade de verificar os movimentos do inimigo. Seguindo esta lógica, a partir do momento em que o primeiro homem conseguiu manter-se no ar foi certo e sabido que os militares o iriam imitar. O reconhecimento aéreo tornou-se uma peça chave da estratégia dos serviços de informação.

Durante a Segunda-Guerra, Sidney Cotton, “armado” com um avião em tons azul-claros, realizou diversas viagens à Alemanha, sempre como homem de negócios ou como produtor de filmes em busca de locais apropriados para filmar. Seguindo as instruções do MI6, a maioria das suas rotas passavam sobre, ou perto, de alvos referenciados pelos serviços secretos ingleses, tais como centros de testes da Luftwaffe, locais de concentração de tropas, zonas fabris e aeródromos.

Cotton acabou mesmo por contratar a única máquina suíça de representação estereoscópica.

Era um mecanismo que pertencia à Aircraft Operating Company, conseguindo dessa forma transformar fotografias obtidas a 10 500 metros de altitude em mapas à escala 1:25 000. Foi a combinação entre bons aviões, boas câmaras e uma competente interpretação que fizeram com que a “unidade privada” de reconhecimento fotográfico de Sidney Cotton se transformasse numa importante arma ao serviço da espionagem britânica. Quer se aprecie ou não a habilidade e o esforço, a IMINT passou a dominar a vida das pessoas e os campos de batalha, através do espaço ou, tão só, através do uso dos drones. Nos dias de hoje, a não ser que esteja escondido, ou encoberto, num hangar, fora da vista, não existe segredo que consiga manter-se oculto a um olho eletrónico que esteja no céu. Chama-se a isso “reconhecimento aéreo”.

Entendamo-nos, a informação que fia mais fino é a que existe dentro dos próprios serviços de informação, sejam eles públicos, privados ou mistos.

Por incrível que possa parecer, o problema americano no Vietname nunca esteve associado a uma possível carência de dados. O que sucedeu foi precisamente o contrário: existiu sempre demasiada informação.

O que aconteceu teve tudo a ver com a natureza da organização dos serviços de inteligência americanos. Toda a informação era demasiado compartimentada, excessivamente volumosa e lenta, abrangendo uma dezena de diferentes cadeias de comando que iam desde as forças armadas até às CIA, DIA e diplomatas, sem esquecer os próprios sul-vietnamitas. Tudo isto fez com que, tendo os EUA conhecimento de cada detalhe da Ofensiva do Tet, mesmo antes de ela ter começado, se revelassem incapazes de reunir e divulgar, a tempo, um alerta coerente e uniforme.

E não vale enganar: a responsabilidade de tudo o que veio a suceder foi dos serviços de informação americanos.

Também nos podemos deter na interpretação do Yom Kippur. Apesar de ser descrito como um triunfo dececionante pela opinião pública árabe, a Guerra do Yom Kippur revelou-se um exemplo marcante de um dos mais populares falhanços dos serviços de informação. De facto, os serviços de informação não foram realmente enganados quanto às intenções da Síria e do Egito. As Forças de Defesa de Israel e as elites judaicas iludiram-se consigo próprias. Em vez de se darem conta do que estava a acontecer diante dos seus olhos, os serviços de informação israelitas preferiram insistir na sua própria narrativa. Ou seja, o falhanço de Israel ficou a dever-se, essencialmente, a uma questão de interpretação.

 

 (continua...)

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