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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

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30
Abr21

História da Espionagem - Notas e relatório confidencial (Agente José Manuel) PARTE IX

João Madureira

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Haiku nº 7: A neve / faz dos ramos das árvores / asas de anjos feridos

Podemos agora falar de uma coisa completamente diferente, como diziam os Monty Python. Sobre a informação servida ao utilizador, como foi o caso da Operação Barbarossa. E do próprio Estaline.

Por volta de 1941, quando alguém revelava algum sinal de preocupação perante o possibilidade de um ataque alemão, a resposta habitual era: “Não te preocupes, o camarada Estaline sabe o que quer.”

Na verdade, nestes casos, tudo depende da pessoa que desempenha o cargo de líder ou chefe. Tudo depende do Big Brother, que tudo sabe e tudo vê, concordar ou não com o que lhe é transmitido, assim como tudo depende de isso ser o que o líder pretende ouvir.

Em 1941, a União Soviética possuía o maior, mais eficiente e bem avisado serviço de informações do planeta. No entanto, Estaline foi surpreendido com a invasão da União Soviética por três milhões de homens e 3350 tanques do exército do Reich Alemão. A incredulidade das tropas que defendiam a longa fronteira ocidental foi enorme. Ninguém estava à espera daquilo. Perguntarão, e bem, os estimados leitores, qual a razão para um falhanço tão catastrófico dos serviços de informação, que conduziu à mais destrutiva Guerra da história da humanidade, poder acontecer, aparentemente, sem qualquer tipo de aviso?

A resposta é extraordinariamente banal: o fracasso teve tudo a ver com o facto de Estaline pura e simplesmente se ter recusado a reconhecer a verdade que lhe era apresentada repetidamente de que a Alemanha nazi se preparava para invadir a União Soviética.

A razão do desastre dos serviços de informação tem uma base comum: Estaline. O ditador soviético acreditava profundamente que uma invasão não podia acontecer com ele no poder.

A sua obsessão radicava na persistente recusa em reconhecer os dados evidentes que demonstravam que os alemães estavam prestes a levar a cabo uma invasão, originando que a URSS sofresse dantescamente à medida que a operação Barbarossa ia empurrando os russos até às portas de Moscovo.

Estaline esperava uma guerra, o problema era que não estava preparado para ela. Três anos antes, o líder máximo comunista tinha deliberadamente destruído o seu exército.

Na primavera de 1937, no período denominado como o “Grande Terror”, Estaline “purgou” o Exército Vermelho dos seus “inimigos internos”. Nos três anos subsequentes executou a maioria dos comandantes militares, depois de os enxovalhar com falsas acusações. O massacre foi devastador: 75 dos 80 membros do Soviete Militar foram executados; os comandantes de todos os distritos militares foram passados pelas armas; dois terços dos comandantes de divisão, metade dos comandantes de brigada e mais de 400 dos 456 coronéis do quadro de oficiais foram também assassinados. Estaline decapitou por completo o “seu” Exército Vermelho.

Os factos falam por si: entre os finais de julho de 1940 e 22 de junho de 1941, nada menos do que 103 advertências separadas e equívocas feitas relativamente a uma eminente ataque contra a União Soviética foram entregues a Estaline. Todas elas foram avaliadas, interpretadas e entregues ao responsável máximo da URSS. Ao que se sabe, e sabe-se já muito acerca disso, nenhum desses avisos foi divulgado e, muito menos, partilhado. Em consequência direta desse fracasso dos serviços de informação, a União Soviética perdeu quatro milhões de soldados, incluindo uns surpreendentes três milhões de prisioneiros de guerra, além de 14 000 aviões, 20 000 canhões e 17 000 tanques nas batalhas que ocorreram entre as fronteiras e os subúrbios de Moscovo de finais de junho a dezembro de 1941.

Os que sobreviveram à guerra, e ao gulag, mantiveram a cabeça baixa, seguindo desse modo uma atitude política e social de sobrevivência baseada no conhecido adágio soviético “farejar, bajular, sobreviver”. Nesta altura apenas os loucos e os estupidamente corajosos se atreveriam a contrariar a interpretação que o tovarisch Estaline fazia dos acontecimentos. Um assessor dos tempos de hoje diria que o camarada de aço estaria em negação.

Numa análise final, podemos dizer que a operação Barbarossa continua a ser um dos maiores fracassos da história universal dos serviços de informação, e como único culpado direto: Estaline. A conclusão é óbvia: os melhores serviços de informação podem não passar de desperdício e, pior ainda, podem transformar-se em agência de autoengano.

A obsessão de Estaline, e a sua fatal má interpretação dos evidentes dados que lhe foram transmitidos, custaram à União Soviética 25 milhões de vidas, além da destruição de seis milhões de casas, de 6000 hospitais e de 70 000 cidades, vilas e aldeias, além de ter mudado o mapa do mundo para sempre.

Contra os factos, não pode haver outro julgamento: mesmo com o melhor serviço de informações do mundo, Estaline deitou tudo a perder. O ditador comunista foi, de facto, “o seu próprio agente de informação, mas também foi terrivelmente incompetente nessa tarefa. Ele que também chegou a ser agente de informação do czar. Ainda hoje a humanidade continua a pagar o preço desses erros.

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