História da Espionagem - Notas e relatório confidencial (Agente José Manuel) PARTE XIV
Haiku nº 12: As chuvas de verão / encheram / o lado desconhecido do rio
Deixem que dedique algumas palavras a esta complexa personagem. Wilhelm Canaris foi mesmo um dos verdadeiros enigmas da guerra. Sir Stewart Menzies, o chefe dos serviços secretos britânicos, definiu-o mais tarde, e passo a citar, como “o raio de um valente e um verdadeiro patriota...”, o que é um elogio estranho e enigmático vindo de um inimigo. Sir Stewart sabia, certamente, daquilo que falava.
Há gente que defende ter sido Canaris um líder da resistência antinazi e mesmo um espião britânico. Apesar de o argumento ser surpreendente e altamente improvável, existem provas suficientes de que o almirante alemão terá tido contactos suficientes com Menzies para que sérias dúvidas sejam colocadas acerca do papel que desempenhou nas misteriosas trocas de informações que se terão realizado entre britânicos e alemães “não nazis”. Ou seja, a importância destes contactos obscuros entre o Abwehr e o SIS pode muito bem ter influenciado o resultado do Dia D.
Foi através da completa compreensão dos métodos profissionais aplicados pelos serviços de informação alemães, e ao auxílio prestado pela capacidade de leitura de tráfego de mensagens das máquinas Enigma, que a LCS logrou manipular a capacidade de avaliação das equipas germânicas responsáveis pela vigilância das operações que envolviam o Dia D, como também manipular a capacidade de avaliação das equipas germânicas responsáveis pela vigilância das operações que envolviam a sua preparação e, ainda, forçar Von Roenne e toda a equipa dos seus serviços a fazer precisamente aquilo que os Aliados pretendiam que acontecesse, ou seja, uma estimativa fatalmente errada num momento verdadeiramente crítico.
No entanto, não podemos inferir que Von Roenne tenha sido um incompetente oficial dos serviços de informação. Longe disso. Foi sempre voluntarioso e idealista. A sua participação no atentado a Hitler aí está para o demonstrar. Além disso, o seu registo anterior a 1944 era excelente. Talvez tenha cometido o pecado de permitir que a confiança que tinha no seu próprio sistema se tenha sobreposto às dúvidas e o tenha levado a esquecer a necessidade de recorrer a análises críticas. Além disso, a avaliação proporcionada pelas fontes foi interrompida, ou ignorada, ou, então, ficou saturada devido a uma operação de logro levada a cabo pelo inimigo, que tinha conhecimento da forma de ludibriá-lo.
Quando colocaram as questões cruciais (Os Aliados vão invadir? E, em caso afirmativo, onde, quando e com que forças?), o pessoal dos serviços de informação alemães procedeu de forma completamente equivocada. E esse erro determinou as ruínas de Berlim e o colapso do “Reich de Mil Anos” de Hitler. São raras as ocasiões em que uma má avaliação realizada pelos serviços responsáveis pela recolha e análise de dados tenha tido consequências tão graves.
Lenine sabia muito bem o que era o terrorismo. Ele próprio foi um ideólogo e um aplicador dessa ideologia. Foi ele quem disse: “Mata um – aterroriza dez mil.” O seu camarada Estaline, um praticante exímio do terrorismo de Estado, teorizou ainda melhor: “A morte de um é uma tragédia; a de um milhão, uma estatística. Lenine que refletiu muito tempo sobre o assunto do terror do Estado concluiu que “o propósito do terror é, simplesmente, aterrorizar”.
(continua...)