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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

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03
Set20

Poema Infinito (524): Poesia do Big Bang (Quinta)

João Madureira

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Isaías foi o que deu início à confusão, pois envolveu-se no seu duplo papel de profeta e conselheiro real. Ou funcionário público. Os tempos bíblicos foram feitos de uma espécie de indignação transmissora que, por si só, desencadeava a expiação. Tudo era feito de adversidade, tempestades sociais e dúvidas eternas. E de certezas feitas de palavras que pareciam açoites. Deus sempre gostou de transformar as multidões em desertos, o que provocou demência no seu filho. E nos seus discípulos. O livro de Isaías começou a crescer e a dar mais espaço aos textos proféticos. E poéticos. Surgiram então as epifanias ligadas a miragens extraterrenas unidas à crença cega no amor e na imortalidade. Os anjos da morte abriam então demasiado as asas e arremetiam sobre os ímpios e sopravam no rosto dos inimigos enquanto eles se entretinham a passar por onde não eram bem-vindos. A voz de Deus era como o pó, por isso se espalhava e cada um fazia com ela aquilo que queria. Ninguém consegue matar o ar. Isso até Deus sabe. As tribos do povo eleito andavam então entusiasmadas em alargar o espaço das suas tendas, a estender o seu medo aos outros que nem se deram conta de que os outros andavam a fazer o mesmo. As profecias, quando começaram a fazer parte dos livros, deixaram de ser previsões de um destino sem esperança. Começaram a ser uma esperança sem destino. Sem princípio e sem fim. Uma coisa uniu os leitores judeus e cristãos: a crítica às fontes do Pentateuco. O profeta Isaías deixou de ser um professor da Tora e um vaticinador da chegada do Messias, para passar a ser um político interventor muito preocupado com os acontecimentos catastróficos em Judá e em Jerusalém. O Messias deixou de ser o foco principal. No entanto, Isaías continuou a insistir: ai dos que se deixam subornar para absolverem os culpados e negarem justiça aos inocentes. Foi ele um dos culpados por transformar Jerusalém na celestial cidade de Deus, com os resultados divinos pela carnificina permanente. Nem Deus consegue remover a impressão da sua eterna impotência.  Em verdade, em verdade vos digo, os livros proféticos são entidades subversivas, capazes de minar os alicerces da religião estabelecida. O exílio foi sempre uma ideia de resistência. As previsões de desastre nunca foram canceladas. Deus, e os seus profetas, são entidades da mitigação. Não acabam com a esperança, mas cancelam-na, através da adição dos oráculos. Deus gosta de confrontar o seu povo. Deus deixou tombar os seus heróis no monte Gilboa para regozijo dos filisteus, das filhas dos filisteus e dos outros incircuncisos. Depois deixou de cair sobre esses montes o orvalho e a chuva. Apenas restou, nesses campos traiçoeiros, o escudo dos heróis desonrados. As filhas de Israel choraram então sobre os corpos de Saul e de Jonatas lágrimas de angústia e destruição. O prepotente desde cedo se começou a gloriar e a maltratar os fiéis à verdade. As carpideiras entoaram então cânticos fazendo entrar a morte pelas janelas e, dessa forma, ser introduzida nos palácios. Perante tanta lamentação, Deus passou a ser mais exigente. Fez saber que o deviam louvar com a cítara e entoando salmos com a harpa de dez cordas e cânticos novos tocados com arte por entre as aclamações. No entanto, os ímpios continuam a cercar os crentes com os seus laços de apostasia. Não devemos invejar aqueles que praticam a injustiça.

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